A saudade queima como o sol...

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 08/08/2025
Horário 06:45

Hoje, numa manhã qualquer que se tornou especial, o WhatsApp vibrou. Era o Iugi Oshiai, voz amiga que ressoa através do tempo, convidando para um reencontro. "Vamos no João Porquinho encontrar a turma da Panela 80", ele disse, a expectativa crescendo em cada palavra. "Tem confraternização no Ibiza no sábado, e o Moacir quer te ver!" Um convite que não é apenas um convite, mas um chamado à memória, um mergulho no passado dourado que pulsa nos corações dessas gerações de ouro. E foi por esse chamado que decidi tecer esta crônica, um hino a duas gerações que marcaram época: a Panela 70 e a Panela 80.
O berço dourado e a efervescência de um torneio que anos em que o sol parecia mais intenso e os sonhos, leves como a brisa de verão, o Inter-Panelas floresceu. Mais que um simples torneio, era um epicentro de amizade e rivalidade vibrante. Panela, essa palavra tão simples, era a alma de uma turma, um círculo íntimo de amigos, quase uma extensão do próprio coração juvenil.
De um lado, a Panela 70, com seus sonhos cravados numa juventude que brincava com a vida como se fosse um jogo insensato. Do outro, a Panela 80, vivendo suas idades mágicas como se fossem mágicos. Duas linhagens, sim, mas unidas por um mesmo ardor: o espírito da competição leal e uma camaradagem que transcendia placares. O embate se dava em cinco arenas: futebol de campo, futebol de salão, basquete, vôlei e natação. O primeiro a conquistar três modalidades se tornavam os campeões, e a glória, imortal.
Lances Imortais e Heróis Improváveis!
Que constelação de craques adornava esses times! No futebol, a bola era um corpo vivo nos pés de Marquinho Macarini, da Panela 80, um artista do drible que transformava cada toque em pura poesia. E a lenda de Marquinho não para por aí: com o tornozelo engessado, à beira da grande final do futebol de salão, ele desafiou as ordens médicas e a voz do próprio pai, seu Agenor (in memoriam). Armado de uma faca de pão, serrou o gesso e, num ato de bravura, entrou em campo para decidir aquela final memorável. O campo de futebol, então, era um caldeirão de paixão, com os irmãos Galo e Foguinho da Panela 70, um palco de glória a cada gol.
Mas o Inter-Panelas era um universo de talentos diversos. No basquete, a bola parecia levitar nas mãos de Reginaldo Senna, o Naldão e na garra de Zé Preto os dois gigantes da Panela 70. Eram imbatíveis. E na natação, ah, ali a Panela 70 tinha o temido Sapão, com seu estilo clássico e invencível, deslizava pelas raias como um golfinho. Da Panela 80, a promessa, o jovem Iugi, com apenas 14 ou 15 anos, já era a sensação nas piscinas. Seu talento o levaria à Seleção Brasileira, ao lado de outro craque, Márcio Macarini, o Maca, que também chegou à seleção brasileira de atletismo. 
Era a essência de uma Geração Dourada que saboreava a vida como se ela fosse um algodão-doce.
Esses jovens, divididos nessa Inter-Panelas, mas entrelaçados pela paixão do esporte e pela pura alegria de estar juntos, não criaram apenas um torneio; eles esculpiram uma geração de ouro. Aprenderam o sabor agridoce da vitória e da derrota, a força da união e a doce arte da superação. Os gritos que ecoavam nas arquibancadas, os abraços apertados após cada partida, as brincadeiras descontraídas e as conversas que se estendiam pela tarde – tudo isso teceu a rica tapeçaria de uma época inesquecível. Me fizeram lembrar de um samba que fiz para a Panela 80: Venta/ Venta/Venta/Venta/ explode seu grito no ar/ pra mim não tem dia nem hora/ Pra Panela 80 ganhar...
Hoje, os cabelos já não ostentam o mesmo fulgor juvenil e os joelhos carregam as histórias de cada lance. Mas o Inter-Panelas vive. Resiste nas lembranças vívidas, nos sorrisos que desabrocham com a nostalgia e nas histórias que, como um rio, fluem e se renovam a cada reencontro. Panela 70 e Panela 80 não mais adversárias, mas almas eternamente conectadas pelo laço indissolúvel de uma juventude vibrante. Esta é uma ode à amizade, ao esporte e aos dias em que a vida era um campo vasto para sonhar e, acima de tudo, para jogar. Fica a saudade de quem souberam criar saudades. Todos eles quando me encontram dizem assim: "E os dez anos"? Kkkk.
"A saudade queima como o sol
A saudade é grande como o mar
A saudade é forte como o vento
Ela abre um caminho pra voltar..."

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