A síndrome do pânico

Papai Educa

COLUNA - Papai Educa

Data 27/11/2017
Horário 10:52

Agosto se aproximava do fim... Em uma daquelas noites, a sessão de cinema era para ter sido apenas mais uma. O filme escolhido: Planeta dos Macacos – A Guerra. Estava sozinho e naquela poltrona descobri que começaria também um combate para mim. A respiração travou, a frequência cardíaca disparou, a visão escureceu e um formigamento tomou conta das minhas mãos. Mesmo com a climatização da sala, o suor veio à tona. Tive medo de morrer!

O corpo já dava sinais de que não ia bem, a comunicação entre físico e emocional apresentava falhas. Nos últimos dois anos foram inúmeras recorridas ao pronto-socorro e à assistência médica, com sintomas variados, de dores, cansaço extremo, insônia, hipertensão, que desapareciam espontaneamente ou com o uso de medicamentos. Isso sem contar os pesadelos. A sensação era de que algo ruim iria acontecer. Porém, nada tinha sido tão intenso como o que ocorreu naquela sala de cinema. E os mesmos ataques súbitos se sucederam até que eu buscasse ajuda do psiquiatra e recebesse o diagnóstico da síndrome do pânico.

Mas como assim? Por quê? Estava na rotina de comunhão diária nas missas há seis meses, tenho uma família saudável, filhos que me enchem de alegria, estou empregado, amigos maravilhosos... Quais eram os meus motivos? Porque minha fé estava tão abalada?

Na juventude me aventurei nos parques temáticos e seus brinquedos radicais, fiz bungee jump, rapel, fui apoio para minha esposa contra este mesmo transtorno quando namorávamos... Nunca me considerei um cara “medroso” e, de repente, vi minha coragem ir para o ralo. Tive medo da morte, sem qualquer perigo iminente e real...

A síndrome é um transtorno químico, provavelmente de origem hereditária. Iniciei o tratamento com medicamentos e psicoterapia (derrubei a barreira de preconceito, considerava pura “frescura”). Não aceitar aquela situação me deixou ainda mais deprimido, prostrado... Tive vontade de parar tudo! A cabeça confusa, memória deficitária e uma tristeza sem sentido piorou o quadro, sempre com temor da crise seguinte.

Hoje, quase três meses depois, posso falar mais tranquilamente. Evitei ficar sozinho com receio de não encontrar ajuda, tive medo de não ter autocontrole dos sintomas, vergonha de expor a situação ou mesmo de que um ataque acontecesse em público. As madrugadas eram aterrorizantes... Fora os questionamentos acerca do que fazia eu na sala do psiquiatra? Que tempo penoso. Desmarquei compromissos, precisei me encorajar para outros que eram inadiáveis, sabendo que necessitaria estar focado e estrategicamente preparado caso algo ocorresse.

Permiti que meus filhos não presenciassem qualquer descontrole emocional. Não estou só nesta batalha. Minha família, esposa e amigos são cruciais neste processo... Eu tenho ajuda! E, não sou um nesta nação que cada dia mais recorre aos tratamentos em busca de equilíbrio. Passos da loucura? Não. Reconhecimento de limitações!

Há muitos homens na mesma condição, em “panelas de pressão” com seus medos, angústias e ansiedades, frutos do peso da responsabilidade familiar, profissional, pessoal... Estão camuflados, temerosos da rejeição social ou profissional. Discursar não me fragiliza, não mais me envergonha, mas me encoraja, sobretudo como comunicador, a testemunhar que nossa humanidade é falível e que reconhecer nossas restrinjas e condições se torna indispensável para continuar em frente com qualidade de vida...

A paternidade nos revela o melhor, mas também volta todos os nossos olhares para o próximo. Em muitas vezes, neste processo, somatizado à rotina extenuante, nos esquecemos de nós, nos trocamos facilmente por uma necessidade profissional, do filho, da família e, investimos menos na gente. E quem não cuida de si, adoece!

O caminho segue, à espera que eu não pare sem completá-lo. Contudo, neste trajeto, sem objeção, preciso desacelerar e respirar profundamente... O momento é difícil. O medo ainda assombra, mas a motivação para não entregar as pontas é maior. Permitir o apoio, vencer o preconceito e reconhecer os starts da ansiedade são passos a se cumprir. Talvez você se identifique ou não... E, eu? Sigo na certeza que o estado de remissão chegará!

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