Tinha um post no Instagram com a foto de um cachorro bem bonitinho. O dog era bonitinho, mas a fotografia também era e quando fui ler na legenda do post, o autor botou só uma hashtag: #semfiltro
Fiquei pensando naquilo e coloquei então para procurar no Instagram os posts que marcavam #semfiltro.
Daí o que vi é algo que precisamos conversar.
Uma pessoa que faz uma fotografia boa hoje em dia, sem adicionar nenhum tipo de efeito ou manipulação digital, não diz que acertou a foto, mas sim que ele mandou tão bem que nem precisou mascarar a coisa toda com um filtro.
Mas fico pensando: por que não diz logo que acertou a foto? Por que ele tem que quase pedir desculpas ao Instagram ou aos criadores dos filtros por ter feito a coisa certa?
Bem, arrisco a dizer que só se faz isso porque se vive como refém de uma manipulação digital, que é o filtro, um serzinho que parece inocente, mas não é.
Bem-vindo (a) à sociedade do filtro. Com ela, tudo é mais legal, mais claro e liso, encorpado e enxuto. Com ela, você precisa se preocupar.
O filtro tem maior cara de bonzinho, te deixa muito melhor, às vez mais jovem, sem marcas, com um olho mais bonito, um cílios perfeito, etc. mas não se engane: ele é do mal. E bem do mal. No fundo, o que o filtro faz conosco é o que as revistas de moda faziam nas décadas de 80 e 90: mostrar o quanto somos infelizes com nossas aparências.
Querer um dia usar um filtro, tudo bem. O problema é não se reconhecer mais sem ele. Na verdade, hoje, nem o garoto influencer se parece com o garoto influencer.
E nesta toada, caindo mais no buraco dos efeitos das mídias digitais em nossas vidas, é possível afirmar que os filtros hoje é que decidem o que é bonito e o que é feio, o que é padrão e o que não é. É uma ditadura, um mecanismo de controle. Homens e mulheres não vão além do objetivo de serem bonitos porque só assim serão dignos de atenção, de afeto e amor.
E quer mais ainda? Aderir sem consciência ao filtro significa delegar à imagem filtrada a responsabilidade não só de como você será visto, mas também interpretado. Ou seja, depois que a imagem-máscara cair, quem sobra? É a pessoa mesmo? É aquela que foi apresentada sem nenhum defeito?
Dá para pensar, né?
