A solidão e suas interfaces

A solidão, atualmente, tem sido alvo de muitas discussões, conversas e pesquisas. É uma realidade que preocupa, muitas vezes é sinônimo de vulnerabilidade emocional. Há pessoas extremamente sozinhas e de diferentes faixas etárias, expressando carência e desamparo. E esperançosos em encontrar alguém que possa ter uma relação amorosa e de confiança. Há dificuldade em criar vínculos ou ligação com as outras. 
Certo dia, estávamos em viagem de excursão com um grande grupo de pessoas, de diferentes regiões do país. Observei que havia muitas pessoas solitárias. Uma senhora sozinha comentou com uma moça que também viajava só, que se aproximasse dela e que não se sentisse sozinha, pois estavam em grupos. A moça recebeu o convite com hostilidade, respondendo com uma pergunta: Quem disse para você, que estou me sentindo sozinha? A senhora respondeu que de forma alguma quis ofendê-la e sim integrá-la ao grupo. Sem querer, é claro, essa senhora mexeu em uma grande ferida, um núcleo no fundo da alma, que estava latente. Era justamente o que estava incomodando a moça, a solidão. Se estivesse bem resolvida internamente, não teria tido essa reação. 
A contemporaneidade tem trazido grandes conflitos. Devido à intolerância a pequenas frustrações, soluções instantâneas e superficiais são criadas rapidamente para substituir faltas e angústias, consideradas inerentes à trajetória de vida. As pessoas estão demasiadamente, pseudo-autossuficientes, podendo tudo. Dispensando o outro. Estamos nos blindando dentro de nós mesmos. Criamos uma barreira onde o outro não entra. Nós nos bastamos. 
Quantos casais estão vivendo uma relação, que metaforicamente podemos dizer, que estão caminhando como retas paralelas. Não há momentos de expressões emocionais. Não há um momento em que ambos tiram as “máscaras”. Representam o tempo todo, como se tudo estivesse muito bem. Não falam, tocam, se olham e se emocionam. Há casais, onde um deles passa horas nas redes sociais, desenvolvendo relações profundamente “íntimas” e profundamente “realizadoras de prazer”. Claro, é mais fácil. Não há contato de pele com o outro. 
Atualmente a internet tem proporcionado o clímax do prazer. Daqui a pouco as pessoas desaprenderão como é aproximar do ser humano. Crianças não sabem soltar pipas, soltar pião, andar de bicicletas, mas sabem fazer tudo isso de forma virtual. Iniciam seus contatos com o virtual de forma muito precoce, e isso não os motivam para a criação e grandes descobertas. Com o passar do tempo, após passarem grande parte do seu dia a dia na internet, e grande parte de seus anos de vida, nada mais tem graça.
Principalmente as dificuldades, frustrações, conquistas e desafios. Não veem motivação em fazer conquistas e de estar com o outro. A criança está passando grande parte de seu dia em contato com a virtual e sozinha. Não acham mais graça em interagir com avós, tias, primos, pais. Todas as respostas para seus “pequenos” questionamentos encontram rapidamente na internet. Não há mais o espírito epistemológico. A curiosidade foi perdendo força. O pensamento está ficando obsoleto. A existência comprometida.
Dói ver tanta gente excessivamente autossuficiente, sinalizando não precisar do outro. Saudade da impotência que nos torna humanos. As questões que envolvem solidão são muito complexas. Há uma frase célebre que diz: Ser adulto é estar só. Quando considerados adultos e maduros ficamos muito bem conosco mesmo. Mas, para chegar a esse momento passamos por todo um desenvolvimento de contato com o outro, um contato emocional com o outro. Hoje esse desenvolvimento está ficando comprometido. Há grandes vazios permeando o relacionamento humano. O resultado é a demora pelo amadurecimento ou maturidade. Ficamos sós, por imaturidade.
 

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