Cena 1
Casal sentado em uma cantina italiana
- O que é isso? É uma aliança?
- Ué? Não tá vendo que é? Isso te assusta?
- Sei lá, o que você vai fazer?
- Vai fazer não, estou fazendo. Estou te pedindo em casamento.
- Mas assim, nossa, estou muito envergonhado. Como assim?
- Envergonhado por quê?
- Ah, quem tem que fazer isso sou eu, o homem.
- O que? Ah, para com isso. Coisa mais velha.
- Mas será?
- A gente já está junto há um bom tempo, eu gosto da forma como você cuida de mim. Gosto do seu sorriso e até me faz bem ter mais responsabilidade. Estamos prontos sim.
- E minha mãe?
- Ela vai se casar também? O que tem ela?
- Ah, você sabe...
- Tá…
- Que foi? Não fica assim. Você me pegou de surpresa…
(Silêncio)
- Mais nhoque, senhorita?
Cena 2
Homem de meia idade, vestido de camiseta, shorts e chinelo, bolsa a tiracolo, sentado em uma padaria paulistana, sábado de manhã, com um copo de pingado na mão e olhando para o infinito.
- Será que se eu morrer alguém ligaria? Acho que nem minha mãe daria falta de mim. Gostava tanto de ficar com ela em casa, ajudar nas coisas todas. Pena que foi ficando difícil para ela me esconder do pai. Porque meu pai tinha que ser assim? Será que ele ainda bebe? Não precisava me bater tanto. Tenho vontade de ir lá falar com ele. E aquele boy de ontem? Que piada que eu sou. Será que um dia vou deixar de acreditar nas pessoas? Eu só me ferro. Saco. Pior foi ter tomado aquela bebida. Não me lembro de muita coisa. Só de acordar naquele quarto estranho. Mas um dia eu acerto e encontro meu príncipe. Um dia a gente vai morar junto e eu vou sair daquela pensão fedida. Nem banheiro eu tenho. Dona Luiza é uma mulher direita, mas não gosta de gay. Um dia eu saio de lá. Com meu boy.
(Gole final no copo de pingado. Paga a conta. Para na entrada da padaria. Olha para fora)
- Será que se eu morrer alguém ligaria?
Cena 3
Homem parado na rua. Ele espera a mulher chegar ao seu encontro.
- Lá vem ela. Como é bonito ver seu sorriso. Ela é uma mulher e tanto. Feliz. Como não amar? Como não sentir o que sinto, mesmo após várias idas e vindas. Mas tudo bem. Tropeços são normais. A gente se conheceu agora. Mas como é linda e como eu me sinto vivo com ela ao meu lado. Queria dizer o tempo todo que há sentido em tudo que vivemos. Que nosso amor é inabalável. Na verdade, é uma promessa que nunca vamos querer quebrar, por pior que seja a situação. Olha lá! Ela já vai chegar dançando, quer ver? Não é linda? Ela mexe com tudo que tenho de mais concreto. Balança meus propósitos, faz com que eu queira ser melhor por ela. Não, não é feitiço. Seria leviano dizer isso e até uma forma de rebaixar a pessoa incrível que ela é. Ela simplesmente é uma certeza em minha vida. Que mulher! Que amante! Que amiga!
- Oi! O que você quer fazer agora?
- Você quer se casar comigo?