A vida que eu tenho

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 16/11/2021
Horário 06:00

No fundo, a gente queria mesmo era viver a vida de um canal de televisão. 
Por exemplo, se você assistir canais tipo o GNT por um dia inteiro, vai ter uma leve sensação de que sua vida ainda tem jeito. 
Quantas coisas você pode fazer para tirar sua vida besta do lugar! Tipo: poder saber falar de moda e estar naqueles desfiles super descolados; entender de engenharia e design; viver um grande amor; ter três ou quatro amigos ou amigas “cabeças” para abrir uma discussão sobre qualquer coisa e isto rolar por horas; ter uma casa decorada do jeitinho que eles tentam ensinar; passar o dia na cozinha experimentando ingredientes sacados, sabores exóticos e cheiros fantásticos; conseguir dobrar o corpo igualzinho aquelas pessoas do programa de ioga; conseguir organizar até caixa de boleto na sala e fica bonito. 
A questão é quando você sai da sala ou levanta-se da cama e percebe que meio que nada daquilo vai dar muito certo na sua realidade, né? Caramba! Verdade! Mas como não?
Porque é outra casa, outro corpo, outra pessoa e a conta bancária também é outra. 
O seu forno ou sua panela não estão nem perto de proporcionar o efeito dos equipamentos do Rodrigo Hilbert ou do Jamie Oliver e por mais que você tente, nunca vai conseguir reunir cabeças tão boas no quintal ou na sala de casa (até porque o quintal está caído e sua sala não chama nem mosquito). 
E espalmar a mão no chão com a perna esticada? Hahahaha!! 
De toda forma, não é para sofrer não. Esta crônica quer primeiro te tirar dos mundos fantasiosos, para mostrar que no fundo é na vida real mesmo que a gente se ajeita. 
Sonhar é bom e vale buscar um equilíbrio. Penso que querer que a vida seja sempre igual ao imaginário da televisão trará uma depressão bem real. Mas usar algumas ideias para pequenas vitórias pode trazer um pouco de paz. 
E daí, mesmo que o jardim não tenha ficado de cinema, o comedor de pássaros só traga pardais e pombinhas para perto de casa, a camiseta customizada enrugue demais e o bolo de fubá com erva-doce queime um pouco na borda, já terá valido a pena porque você se levantou, colocou a mão na massa, experimentou e inovou. Mude o canal!

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