Abraçar o tempo

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 31/12/2023
Horário 05:00

Escrevo a última crônica do ano e me deparo com a velocidade do tempo, esse ágil viajante, sem rédeas. Guardo histórias, risos, lágrimas. Entre os dedos da minha mão, a vida se desespera, palco efêmero em rodopios. No respiro profundo, encontro a calma. Lembro-me que no calendário chinês estamos apenas no meio do caminho do ciclo de 60 anos que combina os 12 animais do zodíaco (rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e porco) e o ciclo dos cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água). 
Na Mitologia Grega, a Terra é Gaia, uma deusa dançante que surgiu das trevas envolvida em véus brancos ondulantes. Lendas milenares da Índia, por sua vez, contam que o universo nasceu de redemoinhos em um mar de leite. Essas imagens me fascinam. Gosto também das mitologias ao redor da espuma do mar, frequentemente associada às histórias de origem, criação ou nascimento de seres mitológicos. Foi de uma tragédia grega que nasceu Afrodite. Diz a lenda que Cronos (de novo, o Deus do tempo!), cortou os órgãos  genitais do seu pai, Urano, e os lançou ao mar. Da mistura entre o sangue e a espuma do mar nasceu Afrodite, frequentemente associada ao amor, à beleza e à fertilidade. Na cultura Iorubá a espuma representa esta energia primordial, o aspecto criativo das águas e a essência da vida. Enfim, a espuma pode ser vista como símbolo de renovação, regeneração e novos começos. 
Curiosamente, essas imagens não são muito diferentes daquelas reveladas pela tecnologia moderna. Hoje, graças à observação de telescópios espaciais, é possível acompanhar a formação de galáxias inteiras, cujas imagens reais mostram manchas esbranquiçadas e rodopiantes no espaço imenso e distante. Pois é, nosso universo sempre foi uma dança de interações entre grandes e pequenas configurações em movimento, cada uma delas contribuindo para a formação da outra. Entre o ar que adentra no meu pulmão e o que se vai, há uma dança suave, um renascer. 
Calcula-se que, no meu corpo, milhões de átomos de potássio explodem cada vez que inspiro e expiro. Embora existam diferenças significativas entre o conceito do Big Bang e o funcionamento das células, esta metáfora destaca o potencial infinito contido em cada célula, assim como o universo em expansão e evolução constante. E o universo inteiro é meu ser. O que teria acontecido se a nossa visão tivesse evoluído com fundamento no conhecimento do mundo orgânico, e não na física mecanicista? Vamos deixar essa conversa pra lá... Viver é abraçar o tempo!

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