Ainda a propósito dos 504 anos de Reforma Protestante

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 06/10/2021
Horário 05:00

Para alguns, o movimento reformista do século XVI adquiriu contornos de revolução tendo como consequência a separação de uma grande parte da Europa Setentrional do domínio da igreja da época. Para outros, não chegou a tanto. Mas ninguém duvida que o movimento religioso, iniciado na Alemanha, tenha efetuado uma profunda alteração religiosa com desdobramentos econômicos, políticos e sociais em todo o mundo ocidental.
Convencionou-se para o estudo da história, que os luteranos da Alemanha ao protestarem contra a decisão da dieta de Spira (convocada pelo imperador Carlos V em 1529 e que tolerava o luteranismo, mas impedia a sua propagação), fossem chamados de protestantes.  
Luteranos eram os cristãos que resolveram seguir as premissas defendidas por Martinho Lutero, famoso reformador alemão, oriundo da classe média da época e que, em obediência à vocação, foi ordenado sacerdote para depois se tornar doutor em Ciências e Filosofia. Como monge agostiniano foi nomeado professor na Universidade de Wittenberg, onde mais tarde se tornaria grande teólogo. Apegado ao estudo bíblico diário sistematizou a doutrina da justificação pela fé elaborada a partir do livro de Romanos, segundo a qual, a justiça do justo não é obra sua, mas dom de Deus.
A publicação de suas teses valeu-lhe a excomunhão papal... História contada na semana passada em minha coluna. 
Uma vez excomungado Martinho Lutero contribuiu com a célebre confissão de Augsburg (1530), que viria ser a base da futura igreja evangélica reformada sintetizada aqui nestes quatro pontos: Sola Gratia - A justificação acontece apenas pela graça de Deus. Dádiva não merecida, contudo, o Espírito Santo nos capacita a recebê-la. Solo Christos – Absolutamente tudo e todas as coisas convergem para o Cristo que se fez carne e habitou entre nós, caminho para o Pai e que possui o único nome que pode nos salvar. Sola Fide – Capacitação do Espírito Santo para responder afirmativamente a Deus. Ao ser humano que confia em Jesus Cristo, a sua fé lhe é atribuída como justiça dando-lhe a paz. Sola Scriptura – A Bíblia é a regra de fé e prática para livre exame dos cristãos chamados para viverem em liberdade.
O espírito liberal - principio protestante - somado ao vigor da incipiente fé reformada fez com que a cristandade estabelecesse em outros países reformas dentro da Reforma produzindo novos idealizadores do movimento, como: João Wycliff – inglês, chamado de “Estrela Matutina da reforma” e João Calvino - o sistematizador da teologia protestante e criador da Igreja Reformada de Genebra (1509-1564). 
A análise deste fenômeno de intenção subjetiva (espiritual) deve levar à humilde interpretação de que a Reforma Protestante se determinou historicamente como todos os outros movimentos humanos, ou seja, registrou em sua caminhada, erros e acertos na construção do Reino de Deus. A relevância da exposição deste movimento religioso na Idade Média não está na simples reprodução dos fatos passados em nossos dias, mas na interpretação contextualizada desses eventos para a afirmação constante de um movimento cristão rumo à tolerância religiosa e a afirmação de Cristo como único e suficiente salvador das nossas vidas. 
 

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