Ainda dá tempo: como o cuidado hoje transforma o amanhã

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 16/04/2025
Horário 05:00

Como cardiologista, uma das perguntas que mais ouço no consultório é: Existe alguma fórmula para vivermos mais e melhor? A resposta é sim. O mais surpreendente é que esse tempo a mais de vida não exige fórmulas mirabolantes nem avanços tecnológicos. Ele já está ao nosso alcance e começa com atitudes simples, repetidas com intencionalidade no dia a dia.
Estudo recente, feito com mais de 2 milhões de pessoas em 39 países, mostrou que quem chega aos 50 anos com a pressão arterial controlada, o colesterol em níveis adequados, ausência de diabetes e um peso corporal saudável pode viver, em média, dez anos a mais sem doenças cardiovasculares ou mortes prematuras. Sim! Mais de uma década a mais de vida com lucidez, mobilidade e disposição para o que realmente importa.
Essa pesquisa, publicada no New England Journal of Medicine, confirmou algo que observo há anos na prática clínica: o nosso coração não esquece dos hábitos que cultivamos. Cada escolha, por menor que pareça, constrói um caminho e esse caminho pode nos levar à saúde ou à perda precoce dela. A pressão que sobe devagar e é ignorada. O cigarro que fica “só aos finais de semana”. A alimentação que se desequilibra aos poucos. 
Sempre digo aos meus pacientes: a forma como vivemos hoje molda o envelhecimento de amanhã. São as escolhas diárias o que comemos, como dormimos, o quanto nos movemos e como lidamos com o estresse que, pouco a pouco, definem o caminho da nossa saúde. Não são atitudes grandiosas que fazem diferença, mas sim os pequenos hábitos repetidos com intenção ao longo do tempo.
A boa notícia é que nunca é tarde para recomeçar. O estudo mostrou que mudanças feitas mesmo na faixa dos 50 ou 60 anos ainda oferecem ganhos concretos. Parar de fumar aos 50, por exemplo, pode acrescentar anos de vida com qualidade. Iniciar uma rotina de caminhadas aos 60 ajuda a controlar a pressão e melhora o bem-estar.
Esses números não são apenas estatísticas. Eles carregam histórias de vida. Talvez a sua. Talvez a da sua mãe, que já toma remédio para pressão. Ou do seu pai, que deixou de se exercitar porque “não tem mais idade para isso”. Talvez você mesmo, diante das suas próximas escolhas de hoje o que vai almoçar, se vai subir as escadas ou se vai remarcar aquele check-up.
Não estou falando de promessas milagrosas. Estou falando de escolhas possíveis. Do prato mais leve, da caminhada curta, do exame em dia. Tudo isso soma. Tudo isso importa para o bem ou para o mal.
Cuidar do coração é, no fundo, cuidar do que mais vale: tempo com quem amamos, projetos que ainda queremos realizar, a vida que ainda podemos viver. O futuro que esperamos está, muitas vezes, nas decisões que tomamos agora.
Não vivemos mais porque temos sorte. Vivemos mais quando temos clareza sobre o que nos faz bem e coragem para transformar o que ainda nos faz mal.
 

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