Ainda é necessário dizer que estupro é inaceitável?

EDITORIAL -

Data 01/08/2025
Horário 04:15

Dois homens. Duas cidades. Quatro crianças. Uma sociedade doente. Esta é a realidade que se impõe, com brutalidade, nesta semana. Em São João do Pau D’Alho, uma menina de 12 anos, autista, em situação de extrema vulnerabilidade, foi encontrada escondida no quintal da casa onde era mantida em cárcere. Estava sendo estuprada por um homem de 38 anos. Escondida. Silenciada. Violada.
Em Monte Castelo, um homem de 50 anos foi preso na zona rural por suspeita de estuprar três crianças. A polícia encontrou provas, apreendeu o celular. A investigação prossegue, mas o essencial já está posto: mais infâncias destruídas. É uma barbaridade. Chocante. Absurdo. 
Por que, em pleno século 21, ainda é preciso dizer que o corpo de uma criança não é território para a perversão de ninguém?
Por que ainda existem adultos que confundem autoridade com abuso, desejo com violência, silêncio com consentimento?
A resposta talvez seja ainda mais indigesta: porque o estupro, em especial o de vulneráveis, nunca foi tratado com a seriedade que merece. Porque há quem desvie o olhar. Porque há quem silencie. Porque há quem normalize. E enquanto isso acontece, o intolerável continua.
Não, não é só mais um caso policial. Não, não é um problema distante. Não, não é exceção. É um retrato.
Um retrato de uma estrutura falida que ainda permite que crianças sejam submetidas à violência mais covarde de todas: o estupro. E que faz isso aqui, ao lado, no quintal por perto, na rua de casa.
O estupro não é um acidente. É escolha de um agressor e consequência de uma sociedade que ainda falha em proteger os seus mais frágeis. Chega de fingir surpresa.
Chega de esperar o próximo nome, o próximo endereço, o próximo boletim. O que precisa, com urgência, é de coragem para encarar o monstro e pará-lo. Antes que outra criança precise se esconder no quintal.


 

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