Amazônia: o paraíso verde

OPINIÃO - Marcos Alegre

Data 15/11/2018
Horário 04:12

Quase como algo cronometrado, volta à tona a ideia de asfaltar os últimos 300 quilómetros da rodovia de Porto Velho a Manaus, a BR-319. Em vez de implementar à força uma ideia que foi mal pensada desde o início, essa proposta deveria ser aproveitada como uma oportunidade para modernizar planos de infraestrutura para a Amazônia. Isso possibilitaria uma abordagem sustentável ao desenvolvimento e um futuro melhor não apenas para os habitantes da região amazônica, mas para todos os brasileiros.

É bom lembrar que eu já tratei deste assunto porque visitei esse lugar como a cidade Fonte Boa, distante 678 km de Manaus, e os habitantes sentem-se isolados e vivem como estivessem em meados do século passado. É bom lembrar que o rio Amazonas é o maior rio brasileiro com extensão de 6,6 mil km, e nasce na cordilheira dos Andes, logo depois a nascente atinge a planície pelo qual se estende até a sua foz no Oceano Atlântico.

Volto ao tema deste trabalho publicado pela Folha de São Paulo, de autoria do pesquisador doutor Thomas Lovejoy, que pontua: “Quase todos os planos da infraestrutura amazônica foram traçados há meio século atrás e aprendemos muito sobre a Amazônia e o que aprendemos precisa ser incorporado para uma infraestrutura sustentável, sobretudo, sobre o ciclo hidrológico da Amazônia por meio do qual cria metade de sua precipitação pluviométrica contribui com a umidade para a agricultura e em áreas ao sul da grande floresta que forma um sistema e a chave para a proteção desse ciclo é a manutenção de 80% da floresta e sua ampliação com a ajuda de reflorestamento prudente que é a única maneira de evitar o ponto de inflexão amazônico lembrando que a nebulosidade é um parâmetro que mede a cobertura de nuvens no céu e tornam-se mais chuvosos”. Há uma espécie de slogan — “Plante arvores e colherá água neste lugar conhecido como Paraíso Verde”.

A preocupação agora é a ressecaria da parte sul e oeste da Amazônia, porque há interesses agrícolas ao sul e para o sistema climático continental. Agora é hora de se perguntar: “as rodovias são necessárias?”. Ou poderiam ser substituídas por meio dos rios como, por exemplo o rio Solimões, que atende milhares de moradores de pequenas cidades e distam 638 km de Manaus e sentem-se isolados e vivem como se estivessem em meados do século passado. Nas áreas mais baixas e úmidas é impossível asfaltar a estrada, daí a utilização de outros rios para o transporte fluvial, que tem sido o transporte tradicional para os milhares de habitantes dessa área.

É bom lembrar que os projetos hidrelétricos não devem bloquear os fluxos de sedimentos dos Andes e nem as grandes migrações de peixes tão importantes para o bem-estar da população local, sabendo-se que o comercio de peixes é o sustento de grande parte da população da área. Os países da Amazônia e, em especial o Brasil, precisam de uma floresta sustentável, ao mesmo tempo em que nosso país precisava afirmar sua presença maior nessa vasta região. Onde for necessário as passagens de linhas de transmissão devem ser colocadas acima da floresta. Os ribeirinhos agora cursam faculdade sem abandonar a floresta amazônica. Percebe-se que as pessoas que vivem aqui distante dos grandes centros urbanos são capazes de encontrar meios para quebrar o isolamento imposto pela floresta amazônica. Sem rádio e televisão, milhões de pessoas vivem em deserto de notícias no Brasil.

Publicidade

Veja também