Associação dos Cegos comemora 78 anos de trabalho em PP com festividade

Composta por 15 profissionais e 80 atendidos, entidade filantrópica preza pela integração dos deficientes visuais na sociedade

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 08/04/2017
Horário 09:40
 

A deficiente visual Renata de Cássia Guimarães Elias, 30 anos, é uma das pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos, cujos 78 anos de existência são lembrados amanhã e foram celebrados com uma festividade na manhã de ontem, na sede da entidade. Ela possui cegueira congênita e ingressou como aluna na instituição há 10 anos, com o objetivo de desenvolver suas capacidades e socializar com indivíduos na mesma condição.

Jornal O Imparcial Na manhã de ontem, festividade reuniu assistidos e colaboradores da Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos

Desde então, Renata já fez parte de inúmeros projetos internos, chegando inclusive a trabalhar como telefonista durante quatro anos e a viajar com a banda da entidade. A convivência duradoura fez com que a aluna encontrasse no local uma nova casa, provando que o essencial é invisível aos olhos. "Aqui é uma família. Somos muito bem atendidos, fiz muitos amigos e sou uma pessoa mais alegre. Enquanto Deus permitir, vou permanecer neste lugar", expõe.

Assim como ela, outras 79 pessoas são contempladas com os serviços da associação, que vão desde projetos socioeducativos a terapias ocupacionais. Para o presidente da instituição, Yassuyuki Hori, as quase oito décadas de trabalho são motivo de grande comemoração. Segundo ele, hoje a entidade conta com o suporte de 15 profissionais, que fornecem todos os atendimentos necessários para permitir que os assistidos convivam em sociedade. O presidente destaca ainda que as portas do lugar estão sempre abertas para toda a região, a fim de proporcionar aos deficientes visuais o acesso à educação, o desenvolvimento das potencialidades e a superação das adversidades em conjunto.

Yassuyuki destaca que a maior dificuldade ainda é a pouca contratação destas pessoas ao mercado de trabalho. "Buscamos diariamente dar condições de trabalho para os nossos assistidos e encaminhá-los, mas as empresas ainda pensam duas vezes antes de contratarem uma pessoa cega", pondera. Renata é um exemplo de quem enfrenta este dilema diariamente. Ela quer voltar a trabalhar como telefonista, mas lamenta a falta de oportunidades para os cegos. "Muitos preferem pessoas com outros tipos de deficiências, pois têm medo de nos contratarem. Apesar disso, estou na luta e não desistirei de encontrar a minha profissão", ressalta.

 

Superação

A professora aposentada, Elizabeth Maria Viana, 63 anos, é de Presidente Bernardes e vem a Presidente Prudente duas vezes por semana para participar das atividades da instituição. Entre as suas favoritas, estão o artesanato, a leitura e escrita em Braille e o Soroban, instrumento para cálculo que ela descreve como "muito parecido com o ábaco". Elizabeth não possui a cegueira congênita, ela começou a perder a visão em virtude de uma degeneração e hoje só enxerga vultos. "Trabalhei como professora de química até 2006. A princípio, perder a visão foi muito difícil, mas hoje encaro como um obstáculo superado. Na verdade, percebo que o meu grau de visão está piorando ainda mais, mas não me apavoro", relata.

Elizabeth afirma que a entidade a ajudou a "aceitar a condição" e, atualmente, ela é o que se pode chamar de "cega social". "Saio, vou ao comércio, vou ao supermercado. Claro que meu filho me acompanha, mas quem faz as compras sou eu. Permaneço independente", salienta. Para a colega Renata, desenvolver a cegueira ao longo da vida faz com que muitos cheguem à associação com comportamento depressivo, sendo assim, o apoio da unidade acaba sendo a cura. No caso dela, que nasceu deficiente visual, o local lhe serviu de guia: "Vim para cá sem nem saber me comunicar direito. Hoje, não apenas melhorei neste sentido, como tenho muito mais mobilidade", pontua.

 
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