Atividade agrícola iniciou processo de erosão em Prudente, constata pesquisa

Estudo analisou geografia local e identificou que já em 1962 havia “estágio perturbado” nas áreas analisadas, antes da expansão urbana

PRUDENTE - BIANCA SANTOS

Data 06/08/2017
Horário 12:45

Uma pesquisa científica realizada em Presidente Prudente verificou que o processo de erosão na geografia local teve início antes da expansão urbana, na década de 1962, por conta da atividade agrícola no município. Os dados foram obtidos por meio dos mapeamentos e das fotografias aéreas de áreas analisadas na cidade nos períodos de 1962, 1978 e 1995, e fazem parte da tese de doutorado “Reconstituição geomorfológica do relevo tecnogênico de Presidente Prudente – São Paulo”, de Érika Cristina Nesta, apresentado na FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulo), no fim de julho.

Segundo o estudo, mesmo não havendo loteamentos e edificações em diversas áreas abarcadas pelas imagens de 1962, todas as áreas já se encontravam em “estágio perturbado”, sendo a principal característica para esta conclusão, a falta da cobertura vegetal arbórea, inclusive nos fundos de vale.  Isso, por conta da retirada da cobertura vegetal para fins, primeiramente, agrícolas, influenciando, desta forma, na intensificação de processos erosivos. Posteriormente, com a expansão urbana e consequente alteração das características hidrológicas, foi identificado o “retrabalhamento” dos depósitos originados pela erosão acelerada.

A primeira fotografia analisada pela autora da tese de doutorado, da década de 1960, já apontava a supressão das matas, inclusive nas áreas próximas aos cursos d´água, sendo avaliada nestes espaços a presença de feições erosivas, ou seja, de desgaste do solo relacionado aos usos agrícolas e pecuários. Para adquirir as fotografias de aéreas recentes, Érika utilizou o Google Earth, através de imagens de satélites fornecidas pelo programa de computador. “Foi encontrada a expansão urbana nestas áreas, inclusive nas proximidades de diversos fundos de vales. Observei também, em alguns locais, a deposição de resíduos sólidos domésticos e fragmentos de materiais de construção, até mesmo sacolas plásticas”, afirma.

Nestas superfícies, segundo a pesquisadora, foram localizados sedimentos (pedaços de solo ou de rochas deterioradas em pequenas partes), inclusive com presença de materiais manufaturados. “O material encontrado nos locais não é relacionado somente aos processos naturais, mas também, às ações sociais relacionadas aos processos históricos de uso e ocupação, eliminando a cobertura vegetal original do solo”, conta.

Os fundos de vale referidos pela pesquisadora são os compartimentos do relevo nos quais se observam grandes alterações, com presença de carga de sedimentos que condicionam elevação do nível de base desses locais e alteração dos cursos d’água, como o assoreamento de alguns destes, além de canalizações abertas e fechadas. “Creio que as principais contribuições relacionam-se ao reconhecimento das alterações das paisagens ao longo do processo histórico de uso e ocupação, mostrando que as ações da sociedade ocasionam consequências no presente e futuro”, frisa Érika.

 

Responsabilidade social

Com sua tese de doutorado, a pesquisadora garante que pode perceber que as ações da sociedade são as responsáveis por alterações nas características dos solos e dos compartimentos do relevo (topo, vertente e fundos de vale), e que as mesmas devem ser planejadas no sentido de evitar que as alterações ocasionem impactos negativos aos ambientes e para a própria sociedade.

Ao ser questionada sobre ações de preservação, a Prefeitura informou que, por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, tem realizado atividades de reflorestamento de solos expostos, principalmente em áreas próximas à margem de rios e relevos acidentados, porém, não há nenhuma punição para os proprietários que não preservam as áreas de forma adequada. Já o ambientalista Djalma Weffort expõe que para melhorar a atual situação do meio ambiente é preciso conservar o solo para não continuar com o processo de desertificação enquanto há tempo de reversão. “Existem muitos sinais de desgaste do solo na região, consequentemente, reduz a qualidade da terra. O primeiro passo a ser tomado para o controle do desgaste é a conscientização da população a respeito da conservação do meio ambiente para a nossa geração e ao futuro”, pontua.

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