A jovem atriz prudentina, Nara Motta Vieira, 26 anos, leva para os palcos de Londrina (PR), uma das obras mais polêmicas da literatura brasileira. O espetáculo solo "Lori Lamby é uma banana", baseado em "O Caderno Rosa de Lori Lamby" de Hilda Hilst, com estreia marcada para esta sexta-feira, às 20h, na DAC (Divisão de Artes Cênicas) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), com entrada gratuita e classificação indicativa de 16 anos.
O projeto nasceu durante a pesquisa de conclusão do curso de Artes Cênicas da UEL e marca a estreia da atriz em um trabalho que mistura provocação e reflexão crítica. "Minha relação com Lori e Hilda começou em 2019 quando li o livro por indicação de uma professora da faculdade. A obra, muito provocante e debochada, também adentra em questões sobre feminismos, gênero e dissidências", revela Nara.
Nascida e criada em Presidente Prudente, Nara é filha e neta de “Marias”, miúda, tagarela, curiosa, fã da vida no interior e colecionadora de cacarecos. Tudo começou na igreja. “Comecei a fazer teatro na igreja, bem novinha, aos 6 anos, na Paróquia Santa Rita de Cássia, todo domingo de manhã, na missa das crianças. Tomei gosto pelo teatro e desde então eu nunca mais parei de me relacionar com essa arte”.
Nara seguiu por esses caminhos teatrais na igreja e, aos 16 anos, entrou para o Programa Sociocultural e Artístico de Teatro, no Centro Cultural Matarazzo. “No Matarazzo, fiz aulas de teatro e participei da criação e realização de peças teatrais ao longo do curso, sob a direção e orientação do meu querido e eterno professor, Thiago Cardoso”.
Durante o curso, Nara participou de espetáculos como “Separação” (Vinícius de Moraes), “Peças e Pessoas” (Luis Alberto de Abreu), “Noturno nº um” (Marçal Aquino) e um grande clássico dos literários, “Um juiz de paz na roça” (Martins Pena). “Nesses anos de aulas de teatro, aprendi muito mais do que só decorar texto. O professor Thiago nos incentivava a pensar nas outras importâncias da cena, como luz, o som, a escrita da dramaturgia, nosso figurino e acessórios. Foi o grande momento de aprender e experimentar essas outras áreas de um espetáculo”.
Também durante o curso em Prudente, Nara colaborou como atriz na Mênades & Sátiros Cia de Teatro, sob a direção de Thiago Cardoso. “Fizemos curta temporada do espetáculo “Meditação de Thais” de Afonso Nilson, em 2017, e foi a primeira vez que atuei junto de atores e atraizes profissionais, e ganhei meu primeiro cachê como atriz. Infelizmente, não lembro com que gastei, acredito que na época eu tenha guardado o dinheiro em papel como uma lembrança dessa experiência única [risos]”.
Aos 18 anos, ela se mudou para Londrina para cursar Artes Cênicas na UEL. “Na universidade tive muitas experiências novas, de vida e artísticas, afinal eu saía da barra da saia da minha mãe para estudar e me aprimorar naquilo que eu sempre soube que gostaria de fazer”.
Por lá, conheceu vários grupos de teatro da cidade, de outras regiões do Brasil e também estrangeiros. Participou de grupos de estudos, atuando em diversas cenas e produções artísticas.
O espetáculo ironiza a figura da "boa-moça" familiar através da personagem de Lori Lamby, uma menina de 8 anos que narra histórias eróticas. "Vejo a figura da 'boa-moça' familiar e construída dentro de um lar protegido sendo ironizada pela imagem da Lori Lamby. Ela pode até ser uma criança, mas junto de Hilda Hilst nos coloca diante de uma pornografia inventada", afirma Nara.
Para a diretora Camila Fontes, o maior desafio foi migrar do papel de assessoria artística para assumir a direção da montagem, com a possibilidade de dialogar com a pesquisa já consistente da atriz. "O texto de Hilda Hilst é bastante provocativo, tornando-se uma obra perigosa de ser encenada atualmente, num contexto em que as pessoas falam demais sem se interessar pela história e pelo contexto das coisas — estão, em outras palavras, tomadas pela preguiça intelectual e deixando de estudar", destaca Camila.
A diretora celebra o resultado final do trabalho. "Estou muito feliz com o encontro que a Nara proporcionou entre eu, ela, a Hilda e a Lory. A gente chega em um final estético visual que muito me interessa, e numa dramaturgia que respeita o texto original da Hilda, mas com o nosso olhar e atenção para os dias de hoje. “O caderno rosa de Lori Lamby” foi escrito na década de 1990, os tempos e o tempo das coisas mudaram, então precisamos adaptar", afirma.
O espetáculo contará com 60 lugares por sessão, e entradas gratuitas disponíveis pela plataforma Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/lori-lamby-e-uma-banana/3195169 . Além da DAC (7 e 8 de novembro), o espetáculo passa pela Usina Cultural (14 e 15 de novembro), Norte Cultural (28 e 29 de novembro) e Vila Triolé (5 e 6 de dezembro) e pela Biblioteca Pública (9 de dezembro).
Toda sexta-feira haverá banca de livros da Livraria Olga com desconto para professores e alunos, e nos dias 8 e 29 de novembro, haverá bate-papos após a apresentação, mediados pela produtora cultural Carin Louro, sobre processo criativo. "Espero muito que as pessoas possam se divertir com Lori Lamby e Hilda Hilst tanto quanto eu me divirto fazendo esse espetáculo", ressaltou Nara.
O projeto tem patrocínio do PromiC (Programa de Incentivo à Cultura) de Londrina, por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Londrina e apoio da Livraria Olga. O espetáculo terá a presença de intérprete de Libras.
FICHA TÉCNICA
“Lori Lamby é uma banana”
Montagem inspirada na obra de Hilda Hilst - “O Caderno Rosa de Lori Lamby”
Atuação: Nara Motta Vieira
Direção: Camila Fontes
Produção:Camila Cortês e Fernanda Franz
Pesquisa e Criação: Nara Motta Vieira
Dramaturgia: Nara Motta Vieira e Camila Fontes
Figurinos e Adereços: Carolise Vilela e Gabriela dos Passos Kansha (Labforma)
Cenografia: Luiz Eduardo Pires
Edição de áudio e vídeo: Camila Fontes
Trilha sonora incidental: Ilariê, Vem dançar com o Txutxucão do Show da Xuxa e Amelie de Guntes Schneider
Projeção: Trecho da entrevista concedida em 1990 para a Tv Cultura, por ocasião do lançamento de “O Caderno Rosa de Lori Lamby”
Desenho de luz: Camila Fontes
Design gráfico: Amanda Megumi
Assessoria de Imprensa: Emília Miyazaki
Montagem técnica, operação de som e luz: Luiz Sandrim
Companhia, afeto e bafinho; Felícia (uma caramelo)
Produção audiovisual (registro): Arthur Ribeiro (Caixa Mágica Filmes)
Fotografia: Natália Castro
Interpretação em Libras: Gabriela Alves
Mediação do bate-papo: Carin Louro
Matheus Damázio

Jovem atriz prudentina leva para os palcos de Londrina, uma das obras mais polêmicas da literatura brasileira