A região enfrentará desafios com as questões climáticas no plantio da batata-doce, mas também tem muito potencial a ser explorado. Constatações que foram apresentadores pelos professores da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) durante o workshop “Produção, Inovação e Mercado”, dentro da sexta edição da Feira Tecnológica da Batata-Doce “Sicoob Credivale” 2025 – a Batatec.
A ação foi realizada nesta sexta-feira, com curadoria do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Os professores Alexandrius de Moraes Barbosa e Edgard Henrique Costa Silva, da área de Ciências Agrárias, integraram os nomes escolhidos para dividir conhecimento com o público.
As palestras aconteceram no período da manhã, dentro do Centro de Eventos IBC. Alexandrius foi o segundo a se apresentar no workshop e trouxe dados históricos sobre a meteorologia na região reunidos desde 1961. Por meio deles, o objetivo foi mostrar a variabilidade climática existente no oeste paulista e como isso afeta os resultados no campo, para que o produtor possa se preparar e definir as práticas de manejo.
“A parte climática é 50% responsável pela produção. Então, o produtor precisa conhecer como é o clima da região. As tendências futuras que a gente tem observado na região é o aumento de ondas de calor e de estiagem. Então, a expectativa é que o cultivo seja mais desafiador. Só vai continuar no setor com boas produtividades quem for bem técnico”, explica o professor.
Por meio do projeto Unoeste Clima, são produzidos dados específicos para a região e também a previsão de safra e do tempo nos próximos meses. “Com isso, o produtor pode se basear nestes dados para tomar a decisão [sobre o trabalho no campo]”, afirma.
Foto: João Paulo Barbosa - Alexandrius Barbosa abordou questões climáticas no oeste paulista
Com o tema “Boas práticas de manejo na cultura da batata-doce”, Edgard Henrique Costa Silva abordou o que estudos realizados pela Unoeste e por outras universidades constataram sobre as melhores práticas para lidar com essa cultura. Para ele, ainda há muito potencial a ser explorado na região em relação ao tubérculo.
“A gente precisa desse contato com o produtor para entender as dores que ele tem. Presidente Prudente é referência, mas tem um gap [diferença entre o desempenho real e o que pode ser alcançado] muito grande. A gente não aproveita quase nada do potencial da batata-doce”, explica.
Edgard disse que o evento também permite contato com empresas que trabalham com o produto. “Elas também desenvolvem soluções, por isso é importante interagir com toda a cadeia”, conta.
Também foi citada a iniciativa da universidade em criar o Ceofop (Centro de Estudos em Olericultura e Fruticultura do Oeste Paulista), do qual Edgard é coordenador. Ele é composto por vários docentes, com linhas de trabalho e pesquisas na parte de fisiologia, adubação, irrigação, pós-colheita, entre outras.
Ainda citou que a universidade tem o financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para a produção de uma cultivar tolerante à seca e mencionou o boletim divulgado anualmente pelo programa de pós-graduação em Agronomia, com os resultados dos estudos em linguagem acessível.
“Enquanto pesquisadores, nós produzimos conhecimento, publicamos pesquisas – muitas vezes em inglês, em revistas internacionais. Mas precisamos que o produtor tenha acesso a esse conhecimento. Então, esse tipo de evento é uma oportunidade da gente ‘traduzir’ isso ao produtor”, conclui.
Foto: João Paulo Barbosa - Edgard tratou sobre potenciais inexplorados da cultura
Entre o público, o produtor rural Edson Verçosa vai levar o conhecimento recebido em Prudente para longe. Mais especificamente para a propriedade dele em Glória do Gotiá, em Pernambuco. A mais de 2,7 mil quilômetros de casa, ele prestou bastante atenção, pois quer implantar a cultura da batata-doce na área onde já cultiva abacaxi, melancia e outras frutas.
“Vim conhecer a feira a fim de ter uma noção para quando eu começar. Por aqui [no oeste paulista], tem a melhor tecnologia e, por isso, vim buscar o conhecimento para ter sucesso no campo. Meu foco é o mercado de orgânicos. Quero ter diferencial para conseguir mais valor agregado. Vou fazer um planejamento para já começar mais assertivo”, afirma.
O aluno de doutorado em Agronomia e integrante do Ceofop, Dario Souza da Silva, também participou do workshop como ouvinte. Ele destacou a relevância de eventos assim para o crescimento tanto da agropecuária quanto da pesquisa científica.
“Ao participar desses eventos, temos a possibilidade de fazer networking. Não queremos deixar o conhecimento trancado na universidade. Ele precisa chegar ao produtor. Aqui podemos fazer contatos para ter essa troca de conhecimento e conseguir parcerias entre ciência e a parte prática”, diz.
Para o Sebrae, a parceria com a Unoeste permitiu a construção de um workshop atento às necessidades de mercado. “Eles [os professores] ajudaram a gente a construir esse workshop, trazendo as temáticas de interesse. A pesquisa faz parte desse processo de evolução da cadeia produtiva e hoje nós podemos trazer isso para a feira, que já se consolidou a nível regional. A feira, inclusive, começou com isso: a ideia de trazer e difundir conhecimento para os produtores de batata-doce”, comenta Rodolfo Fachiano, analista de negócios do Sebrae.
Foto: João Paulo Barbosa - Produtor rural Edson Verçosa veio de Pernambuco para Batatec
Neste sábado, quem passar pela Batatec poderá ter uma experiência sensorial no estande da Unoeste. O público poderá usar os sentidos (olfato, paladar, visão, tato e audição) para avaliar o produto.
A sexta edição da Batatec continua até domingo, com apresentações musicais, praça de alimentação e vários expositores.
Segundo o IEA (Instituto de Economia Agrícola), a região de Prudente lidera a produção do tubérculo em São Paulo e se destaca nacionalmente. Só no ano passado, foram 5.226 hectares em produção, que resultaram em mais de 4,4 milhões de caixas de 24 quilos de batata-doce.