Para apontar a lua, basta um dedo.
Mas ai daquele que confundir o dedo com a lua.
Eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.
Mateus 2.9
O Evangelho de Mateus narra de forma singular o nascimento de Jesus em Belém da Judéia, vizinha de Jerusalém.
Após apresentar a genealogia de Cristo e o acolhimento amoroso de José, seu pai, a narrativa conduz o leitor à efetiva natividade do filho de Maria em meio aos poderes da época: religiosos (sacerdotes e escribas), políticos (Herodes e o Império Romano) e a simplicidade de um nascimento em manjedoura qualquer.
Contudo, é necessário, segundo o evangelista, encontrar o menino, pois o sinal fora dado: vimos a sua estrela!
Entre milhões de astros na noite escura como um breu, um luzeiro único e peculiar a indicar que o menino nasceu.
No entanto, é preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer: não se confunde a estrela com o menino e seu alvorecer.
Não se perde a beleza do luar pelo dedo a apontar.
Eis a razão do Advento. Tempo de espera e de sinais: Deus nascerá como menino. O Verbo se fez carne entre nós a habitar!
Época de preparação para que o dedo não seja confundido com a lua e a estrela e seu brilho não supere a luz do menino indicando a redenção gratuita e bondosa de Deus.
Embora nos aponte simbolicamente para o Natal, o Advento, a cristandade no terceiro domingo do calendário cristão, não faz outra coisa senão dirigir sua adoração e alegria ao menino que nasceu.
Não se confunde a estrela com o infante a anunciar que a salvação de Deus se aproxima. O tempo divino/Reino de Deus está entre nós! Dizia João Batista preparando para a chegada do menino Deus.
O símbolo indica o caminho a seguir. Contudo e, de forma alguma, ele se constitui elemento fundante, nem tão pouco o sentido último da vida a existir.
A estrela a apontar é a mediação simbólica a anunciar no tempo que, Deus por meio de um simples e meigo menino, invadira a história humana tomando a iniciativa de ser gente!
Todavia, é preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer: não se confunde o dedo que sinaliza, com a lua a iluminar.
Assim, de vez em sempre é bom lembrar a origem e o destino do ser humano: tu és pó e ao pó retornarás. Esvaziar-se de si e das coisas que se têm, para estar em Cristo. É tempo de Advento!
Também, numa constante e dinâmica alteridade é indispensável encontrar-se com o outro em empatia e gestos concretos de misericórdia a socorrer os necessitados e desprotegidos da vida. Pois eu estava com fome e vocês me deram comida; estava com sede e me deram água. Era estrangeiro e me receberam na sua casa. Estava sem roupa e me vestiram; estava doente e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar. Palavras de Jesus. É tempo de Advento!
Mas, é preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer. É preciso saber viver! Não se deve também desprezar os sinais/símbolos que, ao longo da vida apontam os mistérios da fé, em forma de linguagem bendita de amor e salvação. É tempo de Advento!
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre. Fernando Pessoa.