Brasil, mãe gentil?

OPINIÃO - Marcos Alegre

Data 20/09/2018
Horário 04:44

Sem abandonar a Floresta Amazônica os jovens podem cursar a faculdade. A chegada do pôr do sol marca por poucas horas o fim do isolamento imposto pela Floresta Amazônica a uma vila de pescadores. Só à noite a vila é abastecida por energia elétrica, gerada por um motor a diesel rudimentar. A comunidade é acessada apenas pelo Rio Solimões e, chegar lá exige duas horas de viagem, se o barco for potente. De canoa, o meio de transporte mais usado, o tempo passa de três horas a partir da sede do município Fonte Boa, a 678 quilômetros de Manaus.

A luz que ilumina as 39 casas de madeira, todas elevadas para escapar do período das cheias do rio, e os 200 moradores terão pela frente apenas quatro horas para assistir aos telejornais, as novelas, produzir o gelo que esfria os sucos de cupuaçu e açaí e, mais do que isso, cursar faculdade em cursos à distancia. Essa chegada era tida como impossível - verdadeira história de pescador. Diziam os mais velhos que a vida que eles conheciam era a de pescar, vender o peixe e viver, assim como diz uma senhora caçula dos dez filhos de outra mulher. Foi a primeira da família a entrar na faculdade e optou por estudar Gestão Ambiental, o que significa que ela terá muito trabalho pela frente.

A pequena cidade de Batalha de Baixo não tem água encanada e nem coleta de lixo. Também não tem banheiro e tudo é muito improvisado. O Rio Solimões é o chuveiro e a privada da comunidade, e a água para beber vem da chuva. “Seria muito fácil”, diz essa moça, se tivesse energia elétrica o tempo todo. Mas não é assim, porque essa energia só dura quatro horas, entretanto a primeira geração dos ribeirinhos estão trocando a atividade pesqueira e a agricultura pela universidade – cursos à distancia – promovido pela Unicesumar, sediada em Maringá, no Paraná.

Mas as universitárias de Batalha ainda lidam com muito improviso e, para estudar, precisam usar a estrutura montada pelo governo do Amazonas, que leva o ensino médio às comunidades isoladas. A estrutura conta com um computador, um monitor e uma antena que, via satélite, capta o sinal de internet e os equipamentos estão montados em uma sala da única escola, chamada Duque de Caxias. Mais comum é as pessoas pegarem a canoa até Fonte Boa para fazer essas atividades. O gestor do polo da Unicesumar em Fonte Boa diz ter criado um atalho para amenizar os percalços dos ribeirinhos que não conseguem assistir às aulas. Criou uma apostila com todo o conteúdo do curso. A estrutura do espaço é modesta mas conseguiram instalar quatro computadores de mesa com internet.

A chegada dessa estrutura animou um cidadão a criar uma meta ousada: ajudar todos os professores de Batalha a ingressar em uma licenciatura. Eles informam ainda que o esgoto corre a céu aberto e polui os igarapés. As ruas da pequena cidade estão cheias de buracos e os apagões também são rotina – a energia é gerada por uma usina termelétrica movida a diesel que opera ao lado das casas. Agora um resumo: A cidade Fonte Boa tem 20 mil habitantes. Batalha de Baixo é um distrito e tem 200 habitantes. Juruá tem 14 mil moradores e Tamanicuá, distrito de Juruá, tem 800 moradores. Agora vou mostrar outra reportagem da Folha de São Paulo com o título: “Sem rádio e televisão, milhões de pessoas vivem em deserto de notícias no Brasil”. Pequeno trecho: “Qual a alternativa que os moradores das pequenas cidades têm? Só a informação que vem dos grandes centros urbanos. Toda essa gente poderá chamar este país como mãe gentil”.

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