Brincadeiras de criança

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 05/03/2023
Horário 04:15

Numa dessas viagens longas que fazem parte da minha semana, eu fiquei ao lado de uma menina com fita no cabelo. Eu bem que tentei puxar uma prosa, mas ela estava completamente absorvida com um joguinho eletrônico no celular do pai. Aquela mãozinha pequenina me dava vontade de brincar de “Gato comeu”...Dedo mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura-bolo, mata-piolho!Sou do tempo que criança brincava na rua. Me deu saudade da adoleta. Todo mundo numa roda, batendo na mão do próximo, de sílaba em sílaba: “le peti petecolá, les café com chocolá. Puxa o rabo do tatu, quem saiu foi tu. Puxa o rabo da panela, quem saiu foi ela. Puxa o rabo do pneu, quem saiu fui eu!” E a pessoa que recebia o tapa por último só tinha uma alternativa para não ser eliminada: pisar no pé de alguém naquele exato momento.Mas correria mesmo era com o “Corre cotia”. Ficávamos em roda e sentados no chão. Alguma criança começava pelo lado de fora da roda, ao ritmo da ciranda: “Corre cotia, na casa da tia. Corre cipó, na casa da avó. Lencinho na mão, caiu no chão. Moça bonita do meu coração. Criança de fora: Posso jogar? Roda: Pode! Criança de fora: ninguém vai olhar? Roda: Não!” Rapidamente abaixávamos a cabeça e fechava os olhos, enquanto a criança de fora deixava cair um pedaço de pano atrás de alguma outra que estava sentada. Daí começava o pega-pega entre as duas até uma delas ocupar o lugar vazio da roda.

E como tinha crianças na rua! As brincadeiras não tinham fim! Esconde-esconde, gato comeu, mãe da rua, morto-vivo, passa anel, pega-pega, pirulito que bate, polícia e ladrão, pular carniça, queimada. Vamos passear na floresta, enquanto seu lobo não vem...está pronto, seu lobo? “Uni, duni, tê...Salamê, minguê... Um soverte colerê, o escolhido foi você!”

Não bastasse isso, quando todo mundo ia embora, eu ficava lá no fundo do quintal da minha avó, montando a minha fazendinha. Varetas de taquara, pequenos galhos ou pedregulhos, sabugos de milho, sementes de algumas plantas. Qualquer material encontrado no chão era pretexto para formar meu rebanho bovino, cavalos, ovelhas. Com os simples riscados na terra, lá iam os peões e boiadeiros pelas estradas afora com suas carroças e charretes. Sem chance. Para a minha vizinha de viagem era um tal de jogos para vestir, médico, dentista, cuidado com o bebê...Performances melhorada e sem “bugs” com efeitos sonoros. Pois é....”Ciranda, cirandinha. Vamos todos cirandar. Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar. O anel que tu me deste, era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas, era pouco e acabou!”

 

 

 

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