Cachorrinho ou Gatinho?

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista que deseja a todos saúde, paz e dinheiro no ano novo

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 21/12/2021
Horário 05:30

A notícia de que a cadela da dona Fifuca tinha dado cria, incluindo um cachorrinho diferenciado na ninhada, correu mais do que o Usain Bolt. Um gaiato espalhou a notícia numa velocidade de míssil pelas bandas da Baixa Fogosa, bairro de Xiririca da Serra, cidade onde urubu voa de costas e carcará prefere voar na vertical, assim como em todo o Brasil. 
Pois é, turma, na atual conjuntura as citadas aves de rapina, que não praticam a rapinagem, voam do jeito descrito pelo cronista Brasil afora.
Mas do que é que eu falava mesmo? Confesso que estou mais perdido do que certos ministros em coletivas. Ah, sim: o distinto aqui falava da cachorra da dona Fifuca, fofoqueira de grife.   
O motivo de tanta celeuma e espanto é que, desta vez, a cachorra Tatá pariu um cãozinho diferenciado, como descrevi no primeiro parágrafo. O filhote em nada lembrava os outros cinco irmãozinhos vira-latas. 
Enquanto os cinco cachorrinhos emitiam o som característico dos filhotes em geral, ainda sem latir forte, o outro miava que nem gato. O quê? Vocês estão pasmos, surpresos, espantados e o escambau? Pois é isso mesmo, seus incrédulos: o cãozinho miava que nem gato.
Foi um deus nos acuda. Como isso foi possível? Um filhote de cão miar como bichano é o fim da picada ou a picada do fim. 
Pois aconteceu em Xiririca da Serra. "É o fim dos tempos", alertou um pastor fã do Malafaia e dos procuradores messiânicos da Lava Jato. O padre também se manifestou: "A besta está solta, como se já não bastasse o Riaj à solta", cutucou o prelado nada pelado.
O cãozinho despertou as atenções gerais. No começo, eram centenas de curiosos para ver o cachorrinho prodígio, uma raridade do mundo animal. Dona Fifuca até pensou em chamar o Globo Rural, mas não precisou porque em pouco tempo uma multidão passou a fazer fila em sua casa.
Como tinha tino comercial, ela, com a ajuda de um dos filhos, aproveitou para ganhar uns trocados e cobrava ingresso até da televisão. "Imagem de graça, não", avisava com topete alto, quer dizer, trança alta. Nem retrato feito com celular era permitido. No fim, a dona da cachorra ganhou uma grana preta e de outras cores para mostrar ao mundo o cãozinho que miava como gato ou gata, sei lá. 
Veterinários examinaram o filhote, examinado também por outros especialistas. Dizem que entre eles estava um cientista da Nasa, mas isso carece provar, pois pode ser mentira mentirosa e não verdade verdadeira.
Era necessário desvendar o mistério. Que papo é esse de cachorro miar? Depois de muita discussão, a verdade apareceu. Tudo não passou de uma estratégia para ganhar dinheiro arquitetada pelo filho caçula de dona Fifuca, um comerciante pra lá de esperto, lembrando malandro dos sambas do Bezerra da Silva. Ele era formado em ciências naturais e metido a mágico (falaram que também era bicheiro).
O rapaz colocou uma coleira com chip no pescoço do cachorrinho, considerado o mais frágil da ninhada. O equipamento, quase imperceptível, tinha uma gravação com miados de gato. Sempre que algum curioso pegava o filhote no colo, o comerciante, estrategicamente escondido, acionava um controle remoto que liberava os miados, dando a impressão de que tudo saía da boca do cachorrinho.
O filho, por sugestão da mãe, que dava nó em leite condensado, também bolou um plano B para o caso de aparecer visitantes portugueses, angolanos e moçambicanos. Nesse caso, em vez do tradicional Miau, os patrícios de além mar ouviriam o cãozinho soltar, com sotaque, um sonoro Maiau.

DROPS

Quem não tem perdigueiro caça com vira-lata.

Homem que é homem não come mel. Come abelha com ferrão e tudo.

Gasolina com esse preço? Chamem o carroceiro.

Filme da semana no Cine Brasil: "A Volta dos Que Não Foram".

W Mecânica, a oficina do Wladimir.
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