Cana-de-açúcar movimenta 48% da produção regional

Cultura dos canaviais continua com a maior representatividade na região; pecuária de corte e leite é afetada com crescimento

REGIÃO - ROBERTO KAWASAKI

Data 26/06/2018
Horário 04:05
Marcio Oliveira - Benedito, produtor de leite, se prepara para as dificuldades do setor
Marcio Oliveira - Benedito, produtor de leite, se prepara para as dificuldades do setor

O IEA/Cati (Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) divulgou neste mês, o VPA (Valor da Produção Agropecuária) Paulista Regional, com estimativas de 2017. Conforme os números apresentados, a cana-de-açúcar continua tendo maior representatividade nos EDRs (Escritórios de Desenvolvimento Rural) da 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo. Do total de R$ 5.750.574.349 movimentados pela produção agropecuária regional em 2017, 48% foram gerados pelos canaviais, cujo VPA foi de R$ 2,7 bilhões. O cálculo foi elaborado a partir de dados de produção e preços das cadeias de produção animal e vegetal de 50 produtos selecionados.

De acordo com Wilson Antônio de Barros, assistente de planejamento do EDR de Prudente, não é de hoje que a cana-de-açúcar é a cultura de maior representatividade na região. Conforme explica à reportagem, começou a apresentar produções mais significativas há dois anos, quando o mercado do álcool passou a exigir mais matéria-prima. “Com o preço da gasolina e do diesel subindo com frequência, o mercado impulsiona mais produção de etanol, já que o combustível permite concorrência de preços entre as produções”, explica.

Com a exigência mercadológica, os produtores sentem a necessidade de expandir os canaviais. Desta forma, Wilson conta que “propriedades rurais estão vendendo suas áreas para que a cana seja cultivada”, o que afeta  outras culturas. Quando o canavial começa a ser plantado em áreas de pastagens, o arrendamento para usinas de álcool permite a estabilidade para o arrendatário. No entanto, o técnico afirma que “o produtor que arrendou suas terras vai deixar de produzir, e viver apenas da estabilidade financeira do arrendamento”.

Tendo em vista o crescimento da cultura canavieira, a geração de empregos também é afetada de maneira positiva, o que aumenta o número de cargos para técnicos especializados em áreas da agroindústria, açúcar e álcool e meio ambiente. “As empresas estão buscando mão de obra qualificada, e contrata estudantes de ensino técnico e superior, bem como profissionais formados”, acrescenta o assistente.

Pecuária é afetada

Enquanto a cultura canavieira continua a crescer regionalmente, a pecuária de corte bovino e a produção de leite apresentaram quedas na produção, contudo, continuam no ranking das principais produções regionais. Segundo o balanço divulgado, a estimativa final do valor de produção da carne bovina, em 2016, foi de R$ 1,8 bilhão e, no ano seguinte, houve queda para R$ 1,6 bilhão. Isso mostra uma variação de 9,14% entre estes períodos. Já em relação à produção leiteira, a redução entre os períodos foi de 3,72%, quando em 2016 a estimativa final do valor de produção era de R$ 187,3 milhões e, no ano seguinte, R$ 180,3 milhões.

O presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, Carlos Roberto Biancardi, explica que o fator que reflete neste cenário é o fato de a cana-de-açúcar estar sendo plantada em área de pastagem, o que provoca, de maneira negativa, a falta de produção e contratação de empregos na pecuária. “Sempre tivemos grandes produtores de gado de elite, reprodutores, temos bom desenvolvimento em pesquisas de cruzamento entre espécies. Então, apesar de apresentar quedas no cenário, temos bons investimentos”, afirma.

De acordo com Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da UDR (União Democrática Ruralista), a queda na pecuária é reflexo da política agrícola “que não leva a sério o trabalho desenvolvido pelo produtor rural”. Diante da falta de incentivo aos produtores, as expectativas no cenário não são das melhores. “O pecuarista está desestimulado a trabalhar, e isso faz com que ele migre de cultura”, expõe.

A baixa do preço da arroba do boi, os altos custos de produtos para manter o trabalho e o clima seco, também foram citados como fatores que interferem no desenvolvimento do cenário. O produtor de leite, Benedito Pedro da Silva Santos, 58 anos, tem sentido o lado negativo que o cenário atual apresenta. No ramo há 12 anos, possui 26 vacas para ordenha, mas apenas três estão aptas ao trabalho. “Tive problemas com um programa de inseminação, mas já está resolvido. Até o ano que vem minha produção deve voltar”, explica.

Apesar do otimismo, Benedito diz que é preciso estar preparado para possíveis dificuldades do setor. “Minha esposa e meu filho trabalham comigo, então, não gasto com funcionários. Mas tenho medo de chegar ano que vem e eu continuar a gastar mais que a produção”, acrescenta.

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