CHARANGA DOMINGUEIRA de 14-08-2016

Esportes - Flávio Araújo

Data 14/08/2016
Horário 18:27
 

DOIS OUROS QUE VALEM UMA OLIMPÍADA


A menina dormia no chão de terra batida do barraco na Comunidade Cidade de Deus. E não havia lua furando nosso zinco e salpicando de estrelas o chão frio e bruto. Ah, os poetas... Passava as noites sobre folhas de jornal protegendo-se do frio que vinha por baixo e sobre o seu corpinho frágil. Rafaela é a imagem desse Brasil. Ganhou a primeira medalha de ouro para o país no judô, um esporte de gente forte e valente que suplanta as adversidades e que vai em frente. Valeu por nossa participação. Outra é a de Kosovo que o mundo conheceu quando tentou ser livre o que custou a vida de 13 mil pessoas. Kosovo tem menos de 2 milhões de habitantes numa área de 10.908 quilômetros quadrados. Já foi do Império búlgaro, do otomano, do bizantino e por fim do sérvio.  Quando a união das repúblicas iugoslavas desmoronou depois que o chicote de Tito deixou de fustigar aos povos dos países satélites que queriam ser livres apenas Kosovo não o conseguiu. Só Kosovo ficou entregue à sua sorte. Apesar da maioria albanesa ficou como uma parte da Sérvia, o berço da antiga Iugoslávia de Tito até que em 1988 declarou sua independência de forma unilateral. Não é reconhecida pela ONU como país independente e sua situação é das mais confusas. Como nação Kosovo não existe. São as feridas políticas que as Olimpíadas abrem aos nossos olhos. Algo que tem semelhança com Timor Leste, com a Palestina, com aquela ilha que se chama Taipé ou Formosa, mas que desfilou na abertura dos jogos como Taipé chinesa. Ou ainda como o desfile dos refugiados que competem não por medalhas, mas pelo pão e pelo ar que respiram. E tudo isso aos olhos de Ban Ki-Moon, o fantoche secretário da ONU que em última análise é apenas uma figura de retórica. Pois aquilo que a ONU não faz uma atleta fez esta semana nos Jogos Olímpicos. A judoca Maylinda Kelmendi ganhou a primeira medalha de ouro para o seu país, o inexistente Kosovo. Maylinda não aceitou propostas até do Oriente Médio para se naturalizar e enriquecer. Pela força do espírito humano, pelo amor aos seus, Maylinda colocou Kosovo outra vez no mapa e na história. Provou o valor do esporte e conferiu aquilo que os que têm olhos de ver já sabem. Ainda há gente decente e nem tudo o dinheiro pode comprar. Ah, antes que me esqueça: na questão política para aprovação pela ONU da independência de Kosovo, o Brasil está em cima do muro. Estas duas medalhas me fizeram esquecer o futebol onde esses pobres milionários não sabem nada da realidade da vida. Palmas para Rafaela e Maylinda. Valeu.

 

Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.  

 
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