ChatGpt: seu aliado ou inimigo silencioso?  

OPINIÃO - Jaqueline Almeida 

Data 11/07/2025
Horário 06:00

Muita gente vai se lembrar do filme “Ela“ (“Her”), lançado em 2013 e ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original no ano seguinte.
O longa conta a história de Theodore, um escritor solitário que, ao adquirir um sistema operacional com inteligência artificial, se apaixona pela voz da máquina. Uma metáfora futurista sobre a solidão contemporânea e o avanço tecnológico. Lembro-me bem de que, na época, aquilo soava como exagero. E cá estamos, em 2025.
Sua sanidade, com certeza, ainda não permitiu que você se declare ao ChatGPT, mas convenhamos: é ele quem tem cuidado do seu tempo, das suas decisões e da sua vida.
Vai planejar uma viagem? Pede um roteiro ao Chat.
Problemas no casamento? Dicas da IA.
Dívidas acumuladas? Solução em três passos.
Discutiu com alguém e quer encerrar a conversa com elegância? Ele escreve o seu desabafo.
O Chat virou psicólogo, consultor de viagens, redator, professor, coach, conselheiro e, não menos importante, tem feito boa parte do seu trabalho. Longe de mim ser contra, sou uma das que já implantou a IA no cotidiano. Mas está na hora de termos uma conversa honesta sobre o quanto temos terceirizado a nossa própria existência para um robô que, no fundo, só reorganiza tudo da forma mais confortável possível para satisfazer o seu e o meu desejo, assim como “Her” fazia com Theodore.
Pensar, refletir, argumentar, errar, aprender, criar, explorar, tudo isso tem sido trocado por comandos de texto (os famosos prompts), e nós temos tido cada vez mais dificuldade em viver sem a IA.
E é exatamente neste ponto que quero chegar: estamos perdendo uma das nossas principais habilidades como seres humanos: a de nos relacionar.
Vou dar o meu próprio exemplo. Comecei a correr, e a IA me deu um plano de treino, o principal tênis que eu precisava comprar, uma dieta balanceada e o melhor relógio para acompanhar o esporte.
Não houve pesquisas, conversas, troca de experiências, nem tampouco um papo descontraído com quem também se aventurou na corrida — apenas um pacote de textos sobre o que eu deveria fazer dali em diante e, claro, para me tornar a melhor corredora. Um tanto quanto chato, não é mesmo?
A IA amplificou a nossa necessidade de sermos melhores em tudo, de não perdermos nenhum detalhe e de termos a falsa sensação de que somos perfeitos.
Ela potencializou o nosso medo de viver e tem tomado o nosso lugar na nossa própria vida. Já pensou nisso? 
Por isso, antes de digitar a próxima pergunta, pense que existe uma chance de aprender algo novo do jeito mais antigo e mais humano do mundo: vivendo.
 

Publicidade

Veja também