CRÔNICA DE SINOMAR CALMONA
Robert Fulghum, o escritor, dizia que tudo o que era realmente importante na vida ele havia aprendido no jardim de infância: jogar limpo, compartilhar, colocar as coisas no lugar. No fundo, concordo. Mas há uma lição da infância que, de tão simples, esquecemos na vida adulta e que a corrida me fez redescobrir: o prazer de correr sem motivo. Apenas correr.
A verdade é libertadora: qualquer um pode ser um corredor. Não há um juiz, uma porta fechada, um teste de aptidão. O único que pode te excluir desse mundo é você mesmo, com suas desculpas e resistências.
O sedentarismo quase venceu
Eu não nasci com o "chip" esportivo. Minha lista de tentativas frustradas é longa: o karatê que parou na faixa amarela, o futebol do Clube da Lua (onde a cerveja era mais pesada que o treino) e o tênis jogado de forma irregular. Tudo isso foi experiência, mas nenhuma delas foi transformação.
A corrida chegou como uma resposta quase silenciosa para uma pergunta que eu nem sabia estar fazendo. Não me transformei em um atleta profissional, mas ganhei algo mais valioso: um movimento regular no dia a dia, saúde, disciplina e, o mais importante, um novo estilo de vida.
A arte de ajustar a rota
Para correr bem, descobri que disciplina não basta. É preciso desenvolver a adaptação positiva.
O ser humano, por natureza, foge da mudança. É mais cômodo e seguro permanecer no mesmo lugar. Mas a corrida me ensinou que crescer—seja na vida ou na pista—significa adaptar-se. É ajustar a meta, o treino e a mente conforme a realidade do corpo. Meu desafio, hoje, se transformou em meta: duas maratonas por ano, em países diferentes, acumulando quilômetro, cultura e memória.
A treinadora Jenny Hadfield está certa ao lembrar que ter metas claras aumenta a regularidade. E o técnico Jeffrey Horowitz simplifica: três treinos por semana, até 55 km, já garantem os benefícios sem o risco de lesões. A chave é essa: não se trata de correr o tempo todo, mas de treinar de forma inteligente.
O perfil que não desiste
O maratonista não é só aquele que cruza a linha de chegada; é aquele que não desiste na primeira dificuldade.
É o sujeito que levanta cedo mesmo com chuva ou frio, que troca um prazer imediato por um objetivo que virá daqui a meses. É claro que há o físico, mas a verdadeira corrida é sobre resistência psicológica, tolerância ao desconforto e persistência.
A preparação para os 42 km é, de longe, o mais recompensador. São meses de planilhas, treinos longos, e uma evolução tão gradual que se torna sutil. Cada quilômetro conquistado na preparação já é uma vitória silenciosa, um depósito de confiança que você fará saques no dia da prova.
Sim, poucos brasileiros se arriscam na maratona—talvez 35 mil. É uma prova que exige uma dedicação mínima, que nunca é pouca. É uma mistura paradoxal de dor e prazer, cansaço e superação. Mas a sensação de cruzar o pórtico final é, e sempre será, indescritível.
A jornada silenciosa
A corrida me ensinou que você não precisa nascer atleta para viver com a mentalidade de um. O segredo está em adaptar, persistir e acreditar.
Cada um segue no seu ritmo, mas todos podemos encontrar nessa atividade uma forma poderosa de nos reconectarmos com o corpo, a mente e o planeta. Porque o melhor que a maratona traz não está no marco de 42 km e 195 metros, mas sim na longa e silenciosa jornada que te leva até lá.
Convite especial aos leitores
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Detalhes do Evento:
• Data: 2 de dezembro
• Horário: 19h30
• Local: Casa do Médico
• Cidade: Presidente Prudente
O evento é aberto ao público. Venha celebrar a conclusão desta jornada literária e compartilhar um momento de conversa sobre adaptação, disciplina e o prazer de seguir em frente!
