Consciência de classe

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 10/02/2022
Horário 04:30

O historiador britânico, Edward Palmer Thompson, foi bastante arguto em mostrar que não basta a existência de uma classe de trabalhadores para que esses se unam por melhores condições de vida e existência. Na verdade, isso só ocorre quando existe a consciência de classe, isto é, quando os membros de uma determinada categoria de trabalhadores percebem as similitudes que os unem, notadamente, as opressões que sofrem, as diferentes formas de exploração que vivem, as condições comuns de existência que os afligem. A consciência de classe é condição sinequa non para a luta de classes. 
Pensar o conceito de consciência de classe tendo em consideração a classe dos professores é algo bastante desafiador, na maioria das vezes. É notório o quão distantes do ideal estão os salários, os planos de carreira, as condições de trabalho e existência dos professores brasileiros, certamente, entre os mais mal pagos e desvalorizados profissionais da educação no mundo. 
Apesar disso, raramente se vê essa classe unida em prol de mudanças nessas condições. Professores da rede privada e mesmo pública poucas vezes manifestam suas insatisfações, raramente fazem greves e ultimamente, o que se vê é uma debandada sem precedentes na filiação aos sindicatos da categoria. É possível aventar que embora sejam uma classe, não tenham consciência de classe. As causas desse fenômeno são profundas e não cabe discuti-las aqui. 
Talvez o melhor exercício, nesse momento, seja o de enaltecer e vibrar com a greve dos professores e professoras municipais, ligada ao histórico e combativo Sintrapp (Sindicatos dos Servidores Públicos Municipais de Presidente Prudente e Região), sindicato criado em 1988, durante a redemocratização e que é um exemplo de luta aos demais professores de outras categorias. Com forte presença feminina na gestão e na sua composição, o Sintrapp tem um histórico de lutas contra a desvalorização docente, com destaque para a histórica greve municipal de 1996, que durou 23 dias e foi quase que completamente liderada pelas professoras ligadas ao sindicato. 
A pauta central da greve atual, o cumprimento do piso da educação básica, sancionada pelo governo federal, tem sido ignorada pela atual gestão municipal. Talvez o prefeito saiba que a medida, assinada pelo Executivo federal, seja apenas medida eleitoreira. O que talvez ele não saiba é que a consciência de classe viceja no Sintrapp e que por isso mesmo, a luta será longa até a vitória da categoria. 
 

Publicidade

Veja também