Covid mata mãe e filha em Prudente

Alaíde e Cláudia: a primeira, cozinheira dedicada ao trabalho; a outra, o “cartão de visitas” da APPA

PRUDENTE - ROBERTO KAWASAKI

Data 05/08/2020
Horário 06:12
Cedidas - Cláudia e Alaíde trabalhavam na APPA há mais de 10 anos
Cedidas - Cláudia e Alaíde trabalhavam na APPA há mais de 10 anos

Alaíde da Silva Santos, 63 anos, e Cláudia Cristina da Silva Martins, 39 anos – duas vidas ceifadas pela Covid-19. Moradoras da zona norte de Presidente Prudente, mãe e filha dividiam a mesma casa, inclusive, o mesmo ambiente de trabalho: a APPA (Associação Prudentina de Prevenção a Aids), onde ambas prestavam serviços há mais de 10 anos. Entre o final de julho e começo de agosto, os sonhos que elas compartilhavam foram interrompidos pelo novo coronavírus.

Cláudia faleceu na manhã do dia 29, quarta-feira da semana passada. Alaíde, no último domingo. A partida precoce de mãe e filha deu uma pausa nos planos da família e deixou para trás uma longa caminhada que seria trilhada com a filha de Cláudia, de 6 anos, juntamente com a mãe e seus quatro irmãos. As saudades compartilhadas nas redes sociais mostram o quão queridas eram: “Duas perdas dolorosas”; “Duas pessoas maravilhosas”; “Mulher iluminada e incrível”. 

Alaíde tinha uma paixão, a culinária. A coordenadora da APPA, Carla Diana, conta que a cozinheira possuía uma característica peculiar no preparo das refeições: o bom gosto. “Era uma mãezona para nós. Tinha um cuidado, um zelo para cada prato que desenvolvia”, lembra. “Era a preocupação maternal, com uma pitada do sentimento de fazer tudo bem feito”. Com o paladar aguçado, escolhia os melhores temperos para o famoso strogonoff, ou o bolo de chocolate que fazia a alegria da equipe. “Nós [da APPA] temos uma relação muito intensa, de família”, salienta Carla.

Enquanto Alaíde cuidava da alimentação, Cláudia ficava responsável por auxiliar a parte administrativa da associação, o “cartão de visitas”, como lembra Carla. Descrita como comprometida, “muito solidária” e zelosa, dividia a responsabilidade do trabalho com a busca de melhores condições de vida para a filha. Divorciada, em algumas semanas ela se mudaria para o apartamento próprio, onde iria ser organizar para iniciar os estudos de uma bolsa integral que ganhou para esse semestre. “Cheias de vida, de sonhos. Elas queriam viver, e isso foi tirado delas”, lamenta a coordenadora da APPA.  

Em busca de ajuda

Carla afirma que os sintomas de Covid nas funcionárias surgiram praticamente ao mesmo tempo. “Qualquer pessoa que relata algum tipo de sintoma, automaticamente a gente faz o afastamento para que procure um médico”, explica. “No caso delas começou com mal-estar, dor de cabeça”, lembra. Mãe e filha passaram pelo Centro Municipal de Triagem do Coronavírus onde receberam atendimento especializado. No local foram orientadas a procurarem ajuda médica caso houvesse uma piora.

A coordenadora explica que o quadro de Cláudia se agravou, e ela sofreu uma parada cardíaca em casa. Foi levada à Santa Casa, mas não resistiu. O resultado positivo para Covid saiu depois da morte. Já Alaíde ficou internada em uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), foi transferida para a Santa Casa e morreu intubada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

“É importante deixar uma mensagem de apelo social”, lembra Carla. “Temos um inimigo invisível, traiçoeiro, e é responsabilidade governamental não apenas fazer com que a sociedade cumpra com seu papel, mas dar uma resposta para as pessoas que se sentem perdidas, ou confundem os sintomas”, expõe.

“Tem um abismo muito grande desse recorte de morte por Covid, onde as pessoas que estão realmente morrendo são as mais vulneráveis socialmente, e é muito importante que a culpabilização não caia sobre essas famílias”. 

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