Das cavernas a elevadores, as faces da violência

OPINIÃO - Ricardo Gabriel de Araújo

Data 04/09/2025
Horário 04:30

Em tempos pretéritos, os senhores da casa agrediam suas mulheres podendo jogar na rua sem suas roupas, tudo em tom de corretivo. Mulheres eram vistas como objeto de satisfação de seus desejos íntimos, escravas do lar, cuidadoras da prole sinônimo de virilidade, além de se submeter aos caprichos daquele que em tom autoritário ao cair da noite, exigiam a concessão dos prazeres carnais.
Apesar de tanta brutalidade, eram tidos cidadãos respeitados que zelavam por sua honra. Um olhar era o suficiente para que suas esposas os respeitassem, como se elas fossem pequenos seres de estimação.
Homens evoluídos, que trocaram suas vestes de pele por trajes sociais e não mais usavam tacapes para agredir sua fêmea, puxando pelos cabelos para dentro das cavernas. Mesmo ainda sendo possível ouvir o grito das mulheres agredidas em suas cavernas, espantando qualquer mito da antropologia, inexistindo espaços para as sombras assustadoras se transformarem em espécie evoluída.
Charles Darwin seria colocado no paredão de muitos programas, pois que evolução é essa? Para onde caminhamos? A diferença entre os homens da caverna e da atualidade é a forma socializada de torturar e agredir, guiada pelo machismo e o falso poder do “falo”. 
Em uma pesquisa desse autor, foi identificado que os agressores atacam suas vítimas no pescoço e rosto, por ser uma das formas de demonstrar que foram agredidas por punição. As cicatrizes cravadas na face serão vistas todas as vezes que olhar no espelho, uma punição visual e psicológica, tornando se um índice epidêmico.
Os homens saíram das cavernas para agredirem suas mulheres dentro dos lares e de elevadores. Um mundo onde o mito da caverna mostrou ser possível sair do mundo sombrio, mas não ensinou como ser um homem com empatia. Seres que vivem em um mundo virtual, onde celulares são tidos como parte de seu corpo. Menos amor, mais telas. Menos empatia, mais avatares. Menos diálogo e risos à mesa com a família para conversas em mundo virtual.
As leis se asseveram para punir aquele que insiste em manter seu instinto neandertal, que trocaram suas cavernas por elevadores, seus tacapes por celulares. Evoluir é caminhar de encontro com a evolução espiritual, humana. Masmorras devem ser construídas para ignorância e templos edificados a virtudes. Homens de bons costumes devem ser mimetizados por outros seres, que embora sejam da mesma espécie, ainda vivem no período pré-histórico.
Rigor contra atos análogos do agressor do elevador, um “homem” que tentou apagar alguma chaga de seu passado, destruir algo que luta dentro de sua mente doentia, destruindo a vida de alguém, nada justificando tal barbárie.
Até quando teremos que assistir de mãos atadas a involução do homem das cavernas, aguardando o milagre da transformação da mariposa fazer com que cenas de horror como esta sejam transformadas em uma nova história, recontada com amor e afeto? Esperamos a cada dia a resiliência dessas vítimas de uma agressão desmedida, assemelhando-se a dolorosa transformação da libélula que evolui e se transforma em momentos de dificuldade, na esperança de avistar o fim da violência e do desrespeito. 

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