Decifro-te ou me devoras                

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 22/01/2023
Horário 05:21

Fui contratado para trabalhar na Unesp no dia 10 de fevereiro de 1990. Desde então, como morador da cidade e professor da universidade, tenho acompanhado as transformações que ocorreram em Presidente Prudente nos últimos 33 anos! Comecei a pensar no tempo no qual vivo aqui. Na mistura das minhas histórias com as histórias da cidade.

A primeira imagem que ficou retida na minha memória foram as palmeiras imperiais que acompanham a Av. Washington Luiz. É uma paisagem imponente e causa uma boa impressão para os “estrangeiros”. Lembro-me também das pessoas caminhando pelo calçadão, das rodas de amigos na praça da catedral e do maravilhoso azul no céu.

Depois o Parque do Povo que se transformou no ponto de referência. É ali que nos encontramos para fazer caminhadas, assistir shows ao certo aberto, participar de manifestações políticas.

Mas nem tudo são flores. Certamente, aqueles que só olham para a cidade através das janelas dos seus automóveis, nunca se aventuraram a caminhar por dentro das diversas realidades que a paisagem urbana oculta. Muitos moradores podem passar a vida inteira e nunca se cruzarem, tal é o grau de separação entre os mais ricos e os mais pobres. A cidade tornou-se, assim, muito grande, vasta, espalhada. Na área mais central há muitos terrenos vazios, mas para os pobres restaram os loteamentos de acesso mais difícil das periferias distantes do centro.

O que se pode conhecer da cidade visitando o Jardim Monte Alto, a Vila Líder, o Humberto Salvador, o Jardim São Domingos e o Morada do Sol através do percurso de ônibus ou a pé? Primeiro, essa tarefa só se torna factível em vários dias. São longas as esperas nos pontos de ônibus. Para alguns desses bairros, é necessário tomar duas conduções, mais de uma hora para ir e mais de uma para voltar. Para trás, vão ficando os shopping centers, as praças, o asfalto. À nossa frente se encontram as habitações precárias, sem reboco e pouca ventilação.

Se somos uma cidade universitária, o que será de Presidente Prudente quando os professores trabalharem de forma mais cooperada? Se somos uma cidade hospitalar, o que será de Presidente Prudente quando os médicos se unirem com os outros profissionais da saúde? Se morar em um loteamento fechado é uma busca de melhor segurança, o que será da cidade quando a praça voltar a ser o local do encontro dos diferentes?

Ó, Presidente Prudente.... decifro-te ou me devoras! É preciso olhar para o que de fato está ocorrendo pela cidade com outras lentes.

 

 

 

 

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