Deixe o mundo um pouco melhor do que encontrou

OPINIÃO - Leonardo Delatorre Leite

Data 22/02/2022
Horário 05:00

O filósofo irlandês, Edmund Burke, compreendia a sociedade enquanto fruto de um contrato, cujas determinações e implicações demonstrassem preocupações genuínas com as futuras gerações. Desse modo, afirmava o pensador supracitado: “A sociedade é, de fato, um contrato (...) ele se torna uma parceria não apenas entre aqueles que estão vivendo, mas também entre aqueles que estão mortos e aqueles que irão nascer”. Diante disso, é premente destacar a centralidade da preocupação com as condições que serão deixadas para as gerações vindouras. 
Numa primeira análise, é importante frisar a eminência do zelo com o bem-estar do futuro da humanidade, visto que tal anseio expressa o altruísmo, o espírito comunal e o desejo pelo progresso qualitativo da população. Diante disso, a busca contínua por melhores condições futuras representa uma espécie de disposição moral em prol da concretização do bem na esfera social, pois, somente lutando pelo justo, é possível preparar um bom caminho para que as próximas gerações tenham condições dignas de prosperidade, não somente em termos materiais, como também em condições valorativas. 
Não obstante, a conjuntura contemporânea não apresenta sinais de uma preocupação genuína com o futuro, já que o caráter tétrico da realidade e dos rumos sociopolíticos simbolizam um individualismo exacerbado  e, sobretudo, a predominância de uma visão materialista, preocupada tão somente com o acúmulo de capital e com a concentração de riquezas e bens de consumo. Além disso, os valores morais se perdem progressivamente em meio ao cenário de primazia dos interesses particulares, de egoísmo, cobiça, hedonismo exacerbado e mercantilização das relações humanas, isto é,  a coisificação do próximo, o qual passa a ser visto como meio para outras finalidades, dentre as quais, é possível citar: o enriquecimento, o aproveitamento, o entretenimento e o prazer. 
Em vista disso, as próximas gerações correm o risco de sofrer com a relativização da dignidade humana e com as heranças de uma mentalidade nefasta de individualismo, autoexploração e egoísmo. Destarte, apenas o resgate da moralidade e das virtudes elementares representa instrumentos poderosos na alteração do cenário supramencionado. Nesse sentido, é preciso reiterar a imprescindibilidade da busca pelo bem e pela justiça civil na esfera pública atual, já que é nevrálgico o estabelecimento dos prolegômenos de uma sociedade solidária e com intuições mais democráticas. Nas palavras do general britânico, Robert Baden-Powell, “Deixe o mundo um pouco melhor do que encontrou.”
Diante do que foi apresentado, resta destacar a necessidade da luta para reverter o cenário contemporâneo de primazia das vontades particulares e da cobiça desenfreada para que as gerações vindouras tenham a capacidade de construção da sociedade com bases valorativas mais sólidas.
 

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