Diferença salarial entre gêneros chega a 28%, constata Caged

Em números absolutos, as mulheres recebiam em média R$ 1.963, contra R$ 2.422 deles.

REGIÃO - Iury Greghi

Data 30/03/2014
Horário 09:41
 

 

A diferença salarial entre homens e mulheres que atuam no mesmo setor chega a 28% na região de Presidente Prudente. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e tomam como referência o ano de 2012.  O segmento de serviços é o que apresenta a maior disparidade entre os gêneros, no qual a média salarial de um homem é de R$ 1.592 e o da mulher é de R$ 1.243 - quase R$ 350 a menos. Ao se considerar todos os oito setores citados pelo Caged, a diferença é de 19,2%, com média de R$ 1.356 para eles e R$ 1.137 para elas.

Jornal O Imparcial Pelo menos 6 cursistas da área da construção civil do Cepaz, em Prudente, são mulheres

Os serviços industriais de utilidade pública (geração e distribuição de energia, extração e distribuição de gás, telefonia, construção e manutenção de ferrovias e portos) são os que apresentam os maiores salários entre as áreas analisadas - e também remuneram melhor os profissionais do sexo masculino. Neste setor, o rendimento médio das trabalhadoras equivale a 81% do dos homens. Em números absolutos, as mulheres recebiam em média R$ 1.963, contra  R$ 2.422 deles.

A menor desproporcionalidade ocorre na construção civil. Neste segmento, a remuneração média é praticamente a mesma entre os sexos, com ligeira vantagem para os homens: R$ 1.103. Já a remuneração das mulheres é de R$ 1.049. A valorização do sexo feminino em uma área predominantemente masculina é uma realidade que vem sendo notada há pelo menos dois anos, avalia o Coordenador de Atividades Técnicas do Centro de Educação Profissional Antônio Zacharias (Cepaz), Marcelo Kobayoshi.

A unidade oferece, desde junho de 2012, cinco cursos na área da construção civil, e o número de mulheres matriculadas só tem aumentado. Atualmente, são pelo menos seis delas, nas formações de pedreiro assentador, pedreiro revestidor (azulejista) e eletricista instalador. Uma delas é a estudante de Arquitetura, Lillian Aguiar Gimenez, de 20 anos. Ela afirma que sentiu necessidade de aprimorar o conteúdo teórico que aprende na faculdade. O fato de a atividade ainda estar ligada ao gênero masculino não a incomoda. "É bobagem isso. A mulher tem de se valorizar e não ter preconceito, porque nosso trabalho é tão bom ou até melhor que o dos homens", declara.

A também cursista Maria Aparecida Ferreira, 46 anos, reconhece que não foi fácil convencer o marido de que a atividade também pode ser exercida por elas. "Ele diz que é muito pesado, mas não é bem assim. A gente dá conta", afirma.

O curso de pedreiro assentador é monitorado de perto pelo instrutor Iderval Rojas Marra. Ele comenta que o mercado da construção está ávido por mão de obra feminina. "As construtoras estão procurando mulheres, porque elas são mais cautelosas, disciplinadas e transmitem credibilidade", declara. Kobayoshi completa que, com a mecanização da construção e da indústria, não há necessidade de "força bruta" na execução de trabalhos relacionados a tais segmentos. "É um  mercado que está aberto e elas devem se aproveitar disso".

 

Resquícios históricos

Os dados ainda incluem os setores de extração mineral, indústria, comércio, administração pública e agropecuária. Em todos eles, o salário médio  masculino é superior ao feminino (veja tabela). Para o sociólogo Luiz Sobreiro Cabreira, a diferença vem caindo gradativamente ao longo das últimas décadas, impulsionada pela emancipação da mulher e sua consequente inclusão no mercado de trabalho. Outro fator a ser considerado, segundo ele, é a ascensão do gênero a cargos diretivos.

No entanto, com base nos números, ele ressalta que ainda há o que avançar. "O preconceito de gênero ainda existe, graças a resquícios históricos que perduram na sociedade. Mas, como vivemos em um sistema de meritocracia, a mulher tem conseguido conquistar espaço por ter demonstrado competência para exercer aquelas funções que antes eram dominadas pelos homens", avalia.
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