Educação e lusofonia VII

António Montenegro Fiúza

Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos do Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia
Paulo de Carvalho, “Os meninos do Huambo”

A atual conjuntura leva-nos a todos a repensar a educação: os curricula, a metodologia, o papel dos pais, da escola, do Estado, as tecnologias e as ferramentas de ensino, toda uma estrutura tradicionalmente construída ao longo de séculos carece de reflexão profunda e de mudanças urgentes.
É de suma importância, assim, relembrar que o processo ensino – aprendizagem ultrapassa as paredes de uma sala de aula e transcende as instituições; a transmissão de conhecimentos, de geração em geração, vem sendo uma das mais gratas e belas marcas da educação e a passagem de informações e valores, da busca pelo novo é uma das peças fulcrais do desenvolvimento da sociedade humana e da construção e recriação das comunidades locais. 
Num período conturbado como este, é necessário que se busquem sinergias entre o ensino formal e institucional e o ensino não – formal, que se tem demonstrado como uma das formas privilegiadas de ensinar o saber – ser e o saber – estar.
Nos países africanos, diz-se que cada velho que morre é uma biblioteca que se queima, reconhecendo o papel importantíssimo das gerações anteriores, na construção dos ideais, dos sonhos e da força das mais novas gerações. Fios de saber escorrem de mãos em mãos, transitam de lábios experientes para ouvidos curiosos, passam de década para década, renovando-se incessantemente, construindo-se, reconstruindo-se, a par e passo. Dos mais velhos aos mais novos, não se sabe quem ensina e nem quem aprende mais, todos juntos, para uma sociedade melhor. 
Instituições como a família e cada um dos seus membros, grupos sociais de maior ou menor dimensão e amplitude geográfica tornam-se agentes centrais e unificadores, num dos processos basilares da sociedade, do qual se tinham, gradativamente, distanciado. 
Paulo Freire terá dito que «o homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade de transformar [...] Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas de contorno não discirna; [...] Isto é verdade se, se refere às forças sociais[...] A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer.»
A conjuntura atual apela à unificação de esforços, em prol de uma geração futura mais conectada com os seus antepassados, com as suas raízes e com a sua comunidade específica, mas com os olhos postos no futuro, reconhecendo o seu papel dentro da realidade que pretende construir. 
 

Publicidade

Veja também