Eleições... americanas

OPINIÃO - Mauro Bragato

Data 08/10/2020
Horário 04:56

A imagem dos Estados Unidos como o berço da democracia, já manchada nos últimos anos, ficou ainda mais degradada após o primeiro debate entre os candidatos à presidência Donald Trump (Republicano) e Joe Biden (Democrata).
Debate de nível duvidoso, em que a lisura das eleições foi colocada em xeque pelo atual presidente – fato contraditório, pois ele foi eleito por este mesmo sistema, e ao contrário de Biden, Trump se negou ao compromisso de aceitar o futuro resultado eleitoral. 
Às nossas tradições o sistema eleitoral americano é complicado, bem diferente. No Brasil, o candidato que tiver mais de 50% dos votos válidos se elege. Lá, vence a presidência quem alcança a maioria absoluta no colégio eleitoral, ou 270 votos.  
Mas o processo é ainda mais burocrático. Tudo começa com as primárias, onde os americanos participam de prévias para escolher, de forma indireta, quem serão os candidatos à presidência. Nelas, pré-candidatos disputam a nomeação ao pleito presidencial dos dois principais partidos: Democrata e Republicano. Cada Estado e cada partido têm sua regra para as prévias. 
Depois das convenções, os candidatos têm mais três meses para fazer campanha até novembro. Mas, assim como nas prévias, essa eleição não é direta. No dia das eleições, os americanos votam em representantes que defendem os candidatos de sua preferência. Esses representantes farão parte de um colégio eleitoral, que é o que de fato elege o presidente. 
Como nem sempre vence a eleição quem tem mais votos diretos em todo o país, torna-se um processo confuso para nós. E isso, de fato, abre margens para a discussão sobre a sua veracidade. Neste ponto, o Brasil pode estar na frente, pois o nosso modelo de eleição já foi considerado um dos mais seguros do mundo.  
E o que essa polarização americana tem a ver com a nossa realidade? Infelizmente, hoje está muito evidente que essa “briga política” polarizada não tem fronteiras. É cada vez mais comum o diálogo perder espaço para discursos raivosos, onde a “minha verdade sobrepõe-se à sua”. 
O excesso de concentração compromete a democracia. Uma sociedade em que dois lados radicalizam, cria inimigos e não adversários, e o diálogo não é incentivado. Políticos, partidos e grupos mais extremistas se alimentam do descontentamento e da intolerância para ganhar mais apoio às suas ideias. 
A situação é desafiadora, mas para diminuir a polarização e estabelecer um diálogo saudável, é necessário compromisso e conhecimento; e os agentes públicos têm a obrigação de dar esse pontapé inicial. Não podemos ser apenas o reflexo de uma ideia ou de um segmento, mas sim, entender o que a sociedade como um todo precisa para transformar isso em políticas públicas.  
Em um mundo, onde a política é tratada como “briga de torcida”, quem tiver o dom do argumento e a capacidade de ouvir e debater sairá vitorioso.
 

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