Endocrinologista alerta sobre uso das “canetas emagrecedoras” sem acompanhamento médico

De acordo com Monika Maranhão, comprar tais medicamentos sem receita aumenta o risco de adquirir produtos falsificados, contaminados ou com doses incorretas

Saúde & Bem Estar - Cassia Motta

Data 04/01/2026
Horário 09:26
Foto: Freepik
“Canetas emagrecedoras”: é preciso ter acompanhamento médico para minimizar riscos 
“Canetas emagrecedoras”: é preciso ter acompanhamento médico para minimizar riscos 

Conhecidas popularmente como “canetas emagrecedoras”, utilizadas para o tratamento de diabetes e obesidade, foram desenvolvidas para permitir uma aplicação rápida, prática e precisa do medicamento. No entanto, apesar da facilidade, não são produtos de uso livre e requerem obrigatoriamente orientação profissional. Segundo a médica Monika Maranhão, especialista em endocrinologia e metabologia, de Presidente Prudente, a liraglutida, a semaglutida e a tirzepatida, erroneamente chamadas de “canetas emagrecedoras” são, na verdade, medicações indicadas para o tratamento de diabetes tipo 2, obesidade, sobrepeso com comorbidades associadas ao excesso de peso, esteato-hepatite associada à disfunção metabólica (Mash - uma forma mais grave da esteatose hepática) e apneia obstrutiva do sono em adultos com obesidade.

A especialista ressalta que a automedicação pode trazer sérios riscos à saúde, como o manejo de dose inadequadamente incluindo risco de overdose, dificuldade em manejar efeitos colaterais e complicações que podem levar à hospitalização, além de perda de massa muscular com evolução para sarcopenia (perda progressiva e generalizada de massa muscular e força esquelética), reganho de peso após suspensão da medicação, além de hipoglicemia em pacientes já em uso de medicações para diabetes. 

“Outro ponto é que existem contraindicações [embora raras] para o uso destas medicações, e apenas um médico consegue realizar a triagem para essas condições. Comprar as canetas sem receita médica, frequentemente online ou de fontes não regulamentadas, aumenta o risco de adquirir produtos falsificados, contaminados ou com doses incorretas”, alerta Monika.

A médica afirma ainda que o uso sem acompanhamento médico ignora a necessidade de monitoramento da saúde geral do paciente, sem avaliação de exames e outras comorbidades associadas. Por estes motivos, o uso desses medicamentos deve ser feito exclusivamente sob prescrição e acompanhamento médico rigoroso, de preferência o endocrinologista.

Efeitos colaterais

Monika explica que os efeitos colaterais mais comuns estão relacionados ao trato gastrointestinal como náuseas, vômitos, diarreia, constipação, dor abdominal, azia, queimação, eructações e inchaço abdominal. “Costumam ser mais intensos no início do tratamento e nos momentos de progressão de dose. O controle do hábito alimentar, da composição da comida e do estilo de vida, além do uso de sintomáticos ajudam a minimizar estes efeitos colaterais. A tendência é irem diminuindo com o tempo, mas casos mais graves podem levar à interrupção do tratamento”. 

Acompanhamento médico

O acompanhamento médico é fundamental para obter um bom resultado e minimizar riscos, e envolve, segundo a médica, alguns fatores:

- Avaliação inicial completa com entendimento das queixas, doenças associadas, hábitos alimentares, prática de atividade física, medicações em uso, exame físico com avaliação da composição corporal e definição de metas;

- Prescrição individualizada caso a medicação esteja indicada, baseada no padrão alimentar e no perfil do paciente, além de orientação quanto ao aumento gradual da dose para minimizar efeitos adversos;

- Monitoramento de efeitos colaterais (como náuseas, desidratação) e prescrição de sintomáticos se necessário;

- Consultas regulares para verificar o progresso e os sintomas, para avaliar progressão de dose conforme a resposta do tratamento, para o monitoramento contínuo de exames laboratoriais e composição corporal e para prescrição de suplementos e vitaminas visando prevenir deficiências.

Alimentação e atividade física

A médica lembra que, embora as “canetas” ajudem a controlar o apetite e a aumentar a saciedade, a alimentação saudável e a atividade física são pilares essenciais e indissociáveis do tratamento, pois otimizam os resultados, previnem deficiências nutricionais, minimizam a perda de massa muscular e garantem a manutenção do peso a longo prazo. 

O uso clínico do medicamento é um tratamento médico para doenças crônicas como diabetes tipo 2 e obesidade, enquanto o uso estético é a sua utilização sem indicação médica formal, frequentemente para perder "alguns quilos" com fins puramente estéticos. “O uso clínico é o único indicado e seguro, já que a eficácia e segurança em pessoas que não têm indicação clínica não foram avaliadas em estudos clínicos.

O objetivo principal no uso das canetas deve ser a melhora da saúde geral e a redução do risco de complicações graves, como doenças cardiovasculares, e não apenas a aparência física”, alerta a especialista.

Efeito rebote

A médica explica que durante qualquer processo de emagrecimento, independente de ser com ou sem o uso das canetas, o corpo sofre uma adaptação metabólica, que é uma resposta fisiológica para tentar restaurar o peso corporal original. Isso envolve: 

- Redução do gasto energético: o metabolismo basal diminui à medida que a massa corporal é perdida, o que significa que o corpo precisa de menos calorias para funcionar;

- Aumento da eficiência: o corpo torna-se mais eficiente em armazenar energia;

- Respostas hormonais: o corpo aumenta a produção de hormônios da fome e diminui os da saciedade perpetuando a sensação de fome.

“Estas mudanças no metabolismo persistem mesmo muitos anos após o processo de emagrecimento e as canetas ajudam a gerenciar essas adaptações enquanto estão em uso. Então, o momento de interrupção da medicação requer uma atenção maior na manutenção dos hábitos alimentares saudáveis e da atividade física. Porém, como a obesidade é uma doença crônica e recorrente, muitos pacientes vão necessitar de tratamento medicamentoso para o resto da vida, contínuo ou intermitente”, observa Monika.

Cuidados

Além do acompanhamento médico rigoroso, a médica orienta a adotar os seguintes cuidados específicos para evitar complicações:

- Não utilizar em caso de contraindicação ou para fins meramente estéticos;

- Ajustar a dose gradualmente;

- Ter orientação nutricional;

- Prevenir e corrigir deficiências de vitaminas e micronutrientes;

- Manter a hidratação suficiente;

- Fazer as aplicações de forma correta, respeitando os intervalos entre as doses;

- Armazenar adequadamente;

- Manejar os efeitos colaterais;

- Informar o médico prescritor e o anestesista sobre o uso da medicação antes de qualquer cirurgia.

Cedida


Monika Maranhão, especialista em endocrinologia e metabologia

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