Entre lutas e percalços, mulheres se destacam no meio esportivo

FORÇA FEMININA No Dia Internacional delas, técnica e esportista que representam o esporte regional afirmam que ainda são minoria

Esportes - THIAGO MORELLO

Data 08/03/2017
Horário 10:52
 

O cenário do esporte ainda é representado, em sua maioria, pelo público masculino. No entanto, a cada ano, o gênero feminino busca e ganha seu espaço. Hoje, na data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, elas, que representam o cenário das modalidades regionais, garantem que se manter no meio desportivo é uma tarefa difícil. As dificuldades enfrentadas ao longo da carreira não chegam nem perto da luta diária em ter que provar a todos que também são capazes.

"O desafio é sempre se manter motivada no esporte e conseguir motivar o seu grupo de trabalho". Essa é a reflexão da técnica do time de basquete feminino sub-17 de Presidente Venceslau, Christi Ane Hammerschmidt.  Para ela, que afirma nunca ter trabalhado em outro ramo a não ser o esporte, ainda existem pessoas que acreditam que algumas modalidades não são destinadas às mulheres. "Como professora de educação física, todo os dias eu ainda encaro a resistência de alguns alunos, que acreditam que o futebol e o boxe são apenas para homens e a dança, por exemplo, é apenas para o público feminino", relata.

Jornal O Imparcial Agda fez parte da equipe prudentina de revezamento 4x100 em 1984

De jogadora a técnica, Christi Ane garante que em sua jornada o preconceito nunca falou mais alto. "O basquete é uma modalidade que desde sempre foi praticada por ambos os sexos. Desta forma, eu nunca me confrontei com pessoas que não entendessem o meu envolvimento. Muito pelo contrário, eu comecei muito nova, aos 10 anos, e quando eu treinava com as meninas, logo em seguida, não satisfeita, começava o treino com os meninos", relata.

"Mesmo diante deles e dos professores que me ensinaram, não tive um tratamento diferenciado. Eu sempre me dediquei muito, no sentido de me esforçar para que meu rendimento fosse igual ou superior aos garotos, de modo que não servisse como desculpa para me sentir inferior ou me tratarem assim. Eu costumo até brincar que, muitas vezes, na hora de escolher as pessoas para os times na escola, eu sempre era chamada antes de alguns meninos", completa a professora.

 

Nas pistas

Um cenário e histórico não muito diferente é o da da paranaense Agda Márcia dos Santos. Integrante da equipe de atletismo máster da Associação Paulista de Atletismo, a atleta, especializada nos 100 e 200 metros rasos, além do salto em distância, compete atualmente com as cores de Presidente Prudente, cidade em que reside há 34 anos.

Mas nem sempre foi assim. Agda também mostra um dos lados e dificuldades que algumas mulheres enfrentam ao longo da trajetória: a maternidade. "Em 1995, 12 anos após chegar em Prudente, eu parei de treinar e competir. Não gosto de falar que é uma dificuldade, porque ser mãe é um momento bom. Mas a gente precisa ter esse período para se dedicar aos filhos. E depois disso, a tendência é não retornar", comenta a atleta.

Mas ela voltou e, por isso, conhece bem a complexidade dessa trajetória. "Hoje, na minha opinião, a mulher enfrenta dois desafios, após ter filhos: a família e ela mesma. Às vezes a falta de apoio, que ainda existe, transparece nessa hora, quando lhe é imposto que a mulher tem que ser de casa e cuidar do âmbito familiar. Não foi meu caso, mas já presenciei. E existe a pior parte, que é a falta de estímulo da própria pessoa, pela necessidade de se reservar um momento de dedicação aos filhos e ao marido", completa.

 

Retorno

Depois de vinte anos de dedicação à maternidade, ela trocou a casa pelas pistas de treino novamente. De volta a competir desde 2015, Agda, que é dona de aproximadamente 200 medalhas, voltou em grande estilo. No ano que marcou seu retorno, participou no Campeonato Paulista de Atletismo Máster e subiu no lugar mais alto do pódio. No ano seguinte, em 2016, garantiu o terceiro no lugar no Campeonato Brasileiro de Atletismo Máster.

Na atividade e já inserida no esporte, Agda relata que nunca esbarrou com o machismo, mas sim com a admiração. "Chega um momento que a gente ganha respeito, por ao mesmo tempo ser mãe, esposa e atleta. Mas acredito que ainda seja uma disputa que as mulheres levam certa desvantagem. Somos vistas como o ‘sexo frágil’ e incapazes de algumas pessoas. É um cenário que tem mudado aos poucos, mas há resquícios. A mulher ainda não é o símbolo de força no esporte. Esse espaço, até agora, é do homem", conclui.

 
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