Envelhecimento patológico: evite tanto quanto puder

Jair Rodrigues Garcia Júnior

O envelhecimento é um processo inevitável, porém a forma como ele acontece é determinante para a manutenção das capacidades funcionais, da autonomia para os autocuidados, qualidade de vida e longevidade. Certamente você tem pessoas idosas na família ou conhece algumas de outras famílias que, aos 70 ou 80 anos, vivem de maneira significativamente diferente. Alguns com limitações normais para idade, mas fazendo suas atividades com independência, enquanto outros permanecem acamados e têm severas limitações para os autocuidados.

ENVELHECIMENTO NATURAL
Há algumas teorias para explicar o processo de envelhecimento, sendo muito provável que seja multifatorial. Há moléculas produzidas pelo próprio corpo (espécies reativas de O2) atacando as células, disfunção das mitocôndrias (produtoras de energia e reguladoras celulares), desgaste dos cromossomos e do DNA (encurtamento dos telômeros) que leva à perda da capacidade de renovação celular, alterações do sistema imune que o levam a atacar células do próprio corpo (doenças autoimunes) e ou se tornar menos eficiente contra as células neoplásicas (que iniciam o câncer) e os antígenos (bactérias e vírus).

ENVELHECIMENTO PATOLÓGICO
Cabelos brancos e rugas são indicativos visíveis do envelhecimento, mas nem sempre indicam a qualidade e velocidade deste processo. O envelhecimento tem uma velocidade normal (média para a população), mas pode ser acelerado ou desacelerado. Envelhecimento patológico (secundário) é caracterizado pela presença de uma ou mais doenças, rompendo o estado normal (fisiológico), pois compromete um órgão ou sistema fisiológico, que pode causar outros problemas. Exemplos simples, porém graves, são a obesidade, hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovasculares.

ENVELHECIMENTO ACELERADO
Envelhecimento pode ser definido como perda gradativa de funções e capacidades, até que se torna impossível sustentar a vida. As doenças crônicas mencionadas acima, várias outras doenças, fatores psicológicos e ambientais aceleram a perda da função dos órgãos e sistemas fisiológicos, aproximando ainda mais rápido o momento de insustentabilidade da vida. Com a evolução e agravamento das doenças crônicas, surgem incapacidades diversas, sendo uma delas a de locomoção, de levantar pesos e até de movimentos. A inatividade leva à perda de massa muscular, de força e outras capacidades. Os músculos deixam de estimular os demais sistemas fisiológicos, que vão perdendo sua função mais rapidamente.

 

IMPORTÂNCIA DO CONDICIONAMENTO FÍSICO
Estilo de vida ativo, incluindo treinamento físico vigoroso, tem se mostrado cada vez mais determinante na “desaceleração” do envelhecimento. As razões principais são que músculos ativos (1) protegem das doenças crônicas mais comuns e fortalecem o sistema imune, (2) secretam miocinas e enzimas antioxidantes que combatem as moléculas inflamatórias e oxidantes naturalmente produzidas no corpo, e (3) mantêm sua própria massa (estrutura) e capacidades de força, potência e outras, que evitam fragilidades como a sarcopenia e osteoporose na velhice.

DOENÇAS, MEDICAMENTOS, MORTALIDADE
Estudo com idosos (média de 70 anos) demonstrou que entre os que realizavam exercícios os casos de hipertensão arterial e depressão eram a metade em comparação aos sedentários. O uso de medicamentos era três vezes menor e o risco de envelhecimento patológico era 7,5 vezes menor nos idosos ativos. Em outro estudo a perda de massa muscular foi relacionada com a mortalidade de idosos. Nas mulheres idosas com sarcopenia o risco de morte precoce foi 63 vezes maior em comparação àquelas com massa muscular normal. Para os homens idosos o risco foi 11,4 vezes maior, na mesma comparação de condições. A dica é avaliar o próprio estilo de vida e quanto os músculos está sendo realmente utilizados.

 

Tememos a morte, porém desejamos a velhice. Então, que usemos mais nossos músculos sempre, para que a velhice seja saudável, de boa qualidade, prazerosa e longa.

 

Referências

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