A Dra. Luciane Schadeck, cardiologista com mais de 30 anos de experiência, apresentou dados contundentes durante o 4º Simpósio Unilab de Medicina Laboratorial: as doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, continuam sendo a principal causa de morte entre as mulheres no Brasil e no mundo.
"Se a gente for olhar, a primeira linha é a doença cardiovascular. Houve uma queda importante nos últimos 20 anos, mas mesmo assim ainda continua sendo a principal causa de óbito em mulheres", afirmou a especialista, destacando que essas condições superam até mesmo a soma das mortes por câncer de mama e colo de útero. "O câncer de mama mata bastante, mas ainda mata muito menos do que a doença cardiovascular".
Sintomas diferentes e mais agressivos
Um dos grandes desafios, segundo a Dra. Luciane, é o diagnóstico. Ela explicou que os sintomas nas mulheres são frequentemente mais sutis e atípicos do que nos homens, o que pode levar a um atendimento tardio. "A doença cardiovascular ela é muito diferente nas mulheres... Um grande problema que a gente enfrenta são os sintomas. Eles são muito amenizados nas mulheres", alertou. "A gente vê muito em pronto-socorro, UTI, com a mulher infartando, um mal-estar... a mulher que falou que ‘tá’ com alguma coisa aqui, cuidado, tem que investigar, ela pode tá infartando".
Fatores de risco exclusivos
A palestra destacou condições que afetam predominantemente o sexo feminino, como a Síndrome do Coração Partido (Takotsubo), desencadeada por estresse emocional intenso e que representa 95% dos casos em mulheres. "É uma mulher que perdeu o filho num acidente, é uma mulher que acabou de se divorciar... precisa ser um estresse muito grande", explicou. Além dos fatores de risco tradicionais – como diabetes, hipertensão, colesterol alto, tabagismo e obesidade –, a médica listou os fatores de risco não tradicionais, específicos da saúde feminina:
Histórico de pré-eclâmpsia na gestação ("Pode esperar que um dia ela vai se tornar uma hipertensa").
Diabetes gestacional;
Parto prematuro;
Doenças autoimunes, como o lúpus;
Tratamentos contra o câncer de mama, como a radioterapia;
Saúde mental e estresse.
Prevenção: metas atualizadas e a "missão quase impossível"
A cardiologista apresentou as metas atualizadas pelas mais recentes diretrizes brasileiras para controlar os principais fatores de risco:
Pressão Arterial: Meta para hipertensos é menor que 130/80 mmHg.
Colesterol (LDL): Para população de baixo risco, a meta agora é menor que 115 mg/dL. Para quem já teve um infarto, a meta é agressiva: menor que 40 mg/dL.
Glicemia (HbA1c): O ideal para adultos é manter abaixo de 7%.
Sobre a obesidade, que ela classificou como "uma missão quase impossível", a Dra. Luciane citou os avanços com os análogos do GLP-1. "São drogas muito boas pra obesidade... Tudo que o cardiologista quer é que o seu paciente perca peso pra desinflamar [as artérias]".
Reposição hormonal: alívio de sintomas, não prevenção cardíaca
Um tópico de grande interesse foi a relação entre menopausa e saúde cardiovascular. A médica foi enfática ao afirmar que a reposição hormonal tem indicação precisa. "Isso não significa que repor o hormônio reduz o risco cardiovascular. Isso não conseguiram provar".
A terapia é indicada para aliviar sintomas vasomotores (fogachos) que comprometem a qualidade de vida, mas não para prevenir infartos. "A terapia de reposição hormonal não deve ser utilizada pra prevenir doença cardiovascular", reiterou, alertando sobre os riscos, especialmente para mulheres acima de 60 anos ou com histórico de trombose.
O evento, que fez parte da programação da Semana Médica 2025, reforçou a necessidade de um olhar específico e contínuo para o coração da mulher, unindo prevenção, diagnóstico preciso e tratamento adequado.