Os animais selvagens da mata, assim como nossos ancestrais do tempo das cavernas, vivem/viviam numa condição de estresse crônico, já que podem/podiam ser atacados a qualquer tempo por outro animal predador. Pessoas nos grandes centros também vivem nesta condição em razão do medo da violência. Além disso, a tecnologia (notificações, mensagens, posts, comentários, ficar off-line ou sem bateria no cell etc) também causa uma condição de estresse crônico.
ESTRESSE
Pode ser físico quando se faz um esforço ou exercício físico voluntariamente, ou emocional, quando se percebe uma situação como ameaçadora à vida ou algum outro aspecto. Nos dois casos o sistema nervoso entra em estado de alerta, produz neurotransmissores específicos e induz a secreção de hormônios como a adrenalina e o cortisol, os quais preparam o corpo para ações de luta ou fuga, mesmo quando não é o caso na situação. Em geral, as situações de estresse são agudas, durando poucos minutos ou poucas horas. Mas o estresse pode ser crônico, de baixa intensidade, persistindo por semanas ou meses.
CORTISOL
É o hormônio da ponta do eixo hipotálamo-hipófise-adrenais, que desencadeia os efeitos característicos da condição de estresse. A desregulação patológica desse eixo e a condição de estresse crônico (cortisol elevado) aumentam o risco de resistência à insulina, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, AVC, síndrome de Cushing, doenças neurodegenerativas e depressão. A obesidade, que é uma doença multifatorial, pode ter o cortisol elevado como uma das causas, contribuindo também para que o excesso de gordura persista, mesmo quando são usadas estratégias para perda de peso.
MECANISMO
O cortisol pode ser medido no sangue, na urina, saliva e no cabelo. Os estudos têm relacionado concentrações elevadas de cortisol em pessoas com sobrepeso e obesas. Pessoas com maior circunferência da cintura e quantidade de gordura visceral/abdominal também apresentam cortisol elevado. O estresse e cortisol elevados provocam (1) aumento da fome/apetite, (2) aumento da preferência/busca por alimentos mais palatáveis e calóricos, especialmente ultraprocessados e (3) redistribuição e maior acúmulo de gordura visceral/abdominal.
RISCO DO CORTISOL
Estudo Longitudinal da Saúde de Adultos (ELSA-Brasil) realizado no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com 2500 pessoas, demonstrou que 40% tinham sobrepeso e 30% eram obesas. Houve relação direta entre elevação do cortisol e aumento do peso corporal. Entre as pessoas com cortisol elevado, 41% tinham sobrepeso e 34% eram obesas. A conclusão foi que o cortisol elevado cronicamente aumentava em 43% o risco de sobrepeso e em 72% o risco de obesidade.
AUMENTO DO CORTISOL
A elevação permanente da concentração de cortisol pode ocorrer por diversas causas, tais como a dependência da tecnologia, sono insuficiente e de má qualidade, consumo regular de álcool, dor e inflamação crônicas, estresse crônico no trabalho e núcleo familiar, o estigma e a descriminação que as pessoas obesas sofrem e a própria dieta restritiva (passar fome), a qual muitos obesos se submetem. Dessa forma, fica estabelecido um ciclo vicioso de estilo de vida não saudável, aumento do cortisol e obesidade.
SAIA DO GRUPO
Apesar de não convivermos mais com os riscos da vida selvagem, a urbanização, sociedade moderna, tecnologia, trabalho essencialmente sedentário etc, provocam estresse crônico nas pessoas. Coincidentemente, tem aumentado a prevalência de obesidade, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e outras. Se você já faz parte desse grupo ou não quer ingressar, a prática regular de exercício físico e outras providências para controle do estresse devem ser imediatas.
Referências
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20 nov 25