Estudo em Prudente aponta que 31% das gestantes não têm registro de vacinação durante pré-natal

Pesquisa em hospital público demonstrou que 11,2% das grávidas possuem as 4 doses recomendadas; recém-nascidos dependem de anticorpos maternos para adquirir imunidade

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 05/11/2025
Horário 17:53
Foto: Homéro Ferreira
Edilson, João Pedro, Luiza, Luís Panucci, Euribel e Giuffrida, envolvidos no estudo
Edilson, João Pedro, Luiza, Luís Panucci, Euribel e Giuffrida, envolvidos no estudo

Baixo nível de documentação vacinal de mulheres grávidas e lacunas críticas de conhecimento sobre essa medida de proteção a doenças infecciosas destacam deficiências na qualidade da assistência pré-natal na saúde pública, aponta estudo realizado em Presidente Prudente. Ao analisar cartões pré-natais, o trabalho, desenvolvido em hospital público, revela resultado preocupante: 11,2% das gestantes com documentação da vacinação completa, com todas as quatro vacinas recomendadas, enquanto 31% não têm nenhum registro de vacinação.

A relevante produção científica com usuárias do SUS (Sistema Único de Saúde) no oeste paulista resultou em artigo que ganhou espaço em revista de visibilidade mundial, a Frontiers of Public Health, cuja tradução é Fronteiras em Saúde Pública.

A proposta da pesquisa levou em consideração que a vacinação durante a gravidez é essencial para proteger tanto as mães quanto os recém-nascidos de doenças infecciosas que podem ser prevenidas pela vacinação. “Os recém-nascidos dependem de anticorpos maternos, transferidos da placenta para o feto e através da amamentação, para adquirir imunidade especialmente durante a primeira infância”, apontam os envolvidos no estudo. 

“Embora de grande importância a cobertura vacinal entre gestantes no Brasil permanece pouco conhecida, particularmente em regiões com poucos recursos, como o oeste paulista”, afirmam. 

Lacunas de conhecimento

Foram avaliados registros de vacinação nas carteiras de pré-natal e o conhecimento sobre as vacinas recomendadas pelo PNI (Programa Nacional de Imunização). O trabalho foi conduzido entre agosto de 2022 e abril de 2023. A população do estudo compreendeu 1.130 mulheres internadas para parto, das quais 541 (47,9%) tinham carteiras de pré-natal disponíveis para revisão.

No pós-parto, os dados das carteiras de pré-natal foram extraídos e as participantes responderam a um questionário estruturado para avaliar seu conhecimento sobre vacinas.

Além dos 11,2% dos cartões pré-natais analisados documentarem a vacinação completa e dos 31% sem conter nenhum registro de vacinação, 91,1% acreditavam ter tomado vacina durante a gravidez e 61,5% não conseguiram especificar quais vacinas.

Portanto, houve a constatação de baixo índice de vacina e lacunas de conhecimento das mulheres com idade média de 27,1 anos. Os envolvidos no estudo entendem que a resolução desses problemas exige esforços conjuntos.

São esforços para aprimorar a capacitação dos profissionais de saúde, especialmente médicos e enfermeiros; fortalecer a educação em saúde pública; e padronizar as práticas de documentação. 

Registro obrigatório 

No Brasil, o PNI supervisiona os esforços de vacinação em toda a população, priorizando gestantes e crianças. Desde 1988, a caderneta de pré-natal serve como registro de saúde obrigatório. Obrigatoriedade que vale tanto nos sistemas de saúde público quanto no setor privado em todo o país, documentando o atendimento obstétrico com os resultados de exames e as vacinações.

Essa documentação é considerada ferramenta fundamental para o registro de informações essenciais de saúde, incluindo o esquema vacinal, que orientam os profissionais de saúde durante o parto. 

Apesar de sua importância, estudos que utilizam dados da caderneta de pré-natal revelam problemas sistêmicos, como documentação incompleta e registros inconsistentes dentro do SUS.

O PNI recomenda quatro vacinas principais durante a gravidez: tétano, difteria e coqueluche acelular (Tdap); hepatite B; influenza; e Covid-19.

O estudo junto ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, pelo qual a Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) oferta mestrado em doutorado, foi conduzido no Hospital Estadual Doutor Odilo Antunes de Siqueira.

Ciências da Saúde 

O artigo recém-publicado faz parte da dissertação de mestrado em Ciências da Saúde (Medicina II) do médico ginecologista e obstetra Luís Antônio Gilberti Panucci, com a orientação do professor Luiz Euribel Prestes Carneiro. 

A produção científica contou ainda com a participação da estudante de Medicina, Luiza Sant’Anna Pinheiro, e de João Pedro Teixeira Roque, especialista em informática do Hospital Estadual. 

Também participaram os professores Rogério Giuffrida, dos programas de pós em Ciência Animal e Meio Ambiente na Unoeste, e Edilson Ferreira Flores, do Departamento de Estatística da Unesp, em Prudente.

O artigo pode ser encontrado na íntegra pelo título "Evaluation of vaccination coverage and the knowledge of parturient admitted for labor in a public tertiary maternity hospital in western São Paulo, Brazil" (frontiersin.org/journals/public-health/articles/10.3389/fpubh.2025.1542321/full).

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