Eu e o Papa 

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 29/04/2025
Horário 06:00

O conclave elegeu um novo pastor para a Igreja logo após o Papa Francisco nos deixar e levar com ele também muito da alegria da qual a igreja precisa ter e manter em dias tão difíceis. 
E eu, por um desses milagres que só a crônica permite, me vi diante do novo Papa, em um pequeno jardim do Vaticano, tomando um café que, confesso, estava sensacional. Só não foi melhor do que nossa conversa, que compartilho agora com vocês: 
- Sua Santidade, posso ser franco?
- Claro. A franqueza é um dom do Espírito Santo que precisamos cultivar sempre.
- Bem, quando foi que a gente trocou o Evangelho de Jesus Cristo por um manual de regras conservadoras? O filho de Deus não veio ao mundo para reforçar qualquer lista de proibições que seja, mas sim para nos ensinar a amar. Porém, vejo que muitos dos que citam a Bíblia em suas palavras, a usam como instrumento para julgar e condenar o próximo.
- Você tocou na ferida. O legalismo é mais fácil que a misericórdia. É mais fácil do que servir. É mais simples obedecer a uma regra do que acolher um irmão e o risco sempre foi esse: reduzir a fé a um código, em vez de vivê-la como um encontro. Por exemplo, Cristo não fez uma entrevista de emprego com os discípulos antes de escolhê-los, até porque conhecia de fato cada um deles. Mas perguntou a cada um se estavam dispostos a amar.
- E eles aceitaram segui-lo pelo amor, mas não foi fácil. Tiveram muitas dúvidas e questionaram o mestre em diversos momentos. 
- Claro, porque nossa capacidade de amar não é dada por inteiro. Somos convidados a amar e não obrigados a amar. E para isso, precisamos aprender a abrir o coração para primeiro ver nossas fraquezas, superá-las, e aí sim, enxergar o irmão que precisa de amor. Amar não é simplesmente doar algo, mas se doar por inteiro. 
- E isso significa superar preconceitos e discriminações. 
- Óbvio que sim. Amar na riqueza e no conforto é fácil. Amar na divergência é o desafio que Cristo nos propõe.
- Amar na riqueza e no conforto é hipocrisia?
- O catecismo da nossa igreja aborda a hipocrisia como um desvio grave da verdade e da caridade, associando-a ao pecado da mentira, à falta de autenticidade na vida espiritual. Mas quando lembramos que no nome da nossa igreja existe o termo “Católica”, precisamos compreender também a nossa universalidade e nossa capacidade de superar qualquer fronteira. E não estou falando aqui exatamente de lugar ou de espaço geográfico, mas sim de comportamento.
- É este o desafio do Papa? Mudar os comportamentos? 
- Não, não posso ser responsável por mudar nenhum comportamento porque isto significaria interferir no livre-arbítrio. Mas é fundamental que os cristãos olhem para dentro de si e se perguntem “Se Cristo entrasse em minha casa hoje, Ele reconheceria Seus ensinamentos no modo como vivo?"
- Nossa, isso incomoda demais. 
- Sim, incomoda porque Deus não espera de nós estatísticas de orações, se as fizemos de madrugada ou à tarde ou quantas vezes fomos fiéis à Palavra e muito menos quantos juízos de valor fizemos. Ele só pede que nosso amor seja dado ao próximo sem nenhum tipo de ressalva.
- Quer mais um café, Sua Santidade?
-Obrigado, preciso voltar para casa e você precisa pensar em tudo que falei. 
 

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