Ex-jogadores denunciam Grêmio por más condições

Em contrapartida, clube cita problemas envolvendo investidor e diz nunca ter fugido dos seus deveres

Esportes - JULHIA MARQUETI

Data 13/04/2018
Horário 20:39
Cedida - Alojamento abriga em torno de 30 pessoas ao mesmo tempo
Cedida - Alojamento abriga em torno de 30 pessoas ao mesmo tempo

Nenhum time de futebol passa batido por problemas administrativos, nem mesmo aqueles que estão no topo dos maiores campeonatos nacionais. Assim como, não fogem de denúncias quando o jogador já está fora do clube. Se tudo isso ocorre em grandes times, não seria diferente nas equipes do interior. Na tarde de quinta-feira, no programa Comercial Esportes, da Rádio Comercial, jogadores recém-demitidos do Grêmio Prudente falaram sobre alguns problemas que estavam acontecendo no clube e fizeram. A reportagem de O Imparcial também foi atrás dos jogadores, que pediram para não serem nomeados na matéria, para entender o lado deles e também do clube, sobre problemas que passaram no alojamento após serem liberados.

Os jogadores fizeram denúncias sobre o tratamento dado aos atletas após serem dispensados, alegando a falta de condições básicas. A confusão, de acordo com eles e confirmado pelo próprio clube, ocorreu por problemas de transferências que um dos investidores do elenco não fez e prejudicou o início do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Pelo desligamento do investidor, o time decidiu dispensar os jogadores que ele havia apresentado ao clube. “Um investidor nos trouxe, escolheram a gente a dedo, depois de problemas, arranjaram outro investidor e o clube mandou a gente embora. Deixaram claro que não era por questão técnica, mas pelos problemas que aconteceram”, afirma um dos atletas.

Alegando falta de condições básicas, como higiene, alimentação, transporte e moradia, os jogadores contaram que, devido a demissão deles e a procura por outros jogadores para compor o elenco, o alojamento, uma casa com três quartos e dois banheiros, passou a abrigar em torno de 30 pessoas. Por conta da superlotação, muitos citaram a dificuldade em dormir. “Tivemos que dormir três em dois colchões para os que chegassem tivessem conforto”, contam.

Nenhum dos jogadores que fizeram as denúncias é da região de Presidente Prudente, mas de Estados distantes. E eles afirmam que tiveram problemas também no momento de deixar a cidade. “Tentamos conversar e eles não aceitaram, queriam pagar só 38 reais para a gente. Aonde a gente chega com 38 reais de fundo de garantia? Não adianta falar que o problema é do investidor, quem assinou com a gente foi o Grêmio”, destacam. De acordo com eles, 11 dos 28 jogadores contratados deixaram o clube, mas não por ajuda da diretoria, mas porque recorreram aos pais. “Meu pai está pra pegar dinheiro e mandar pra eu ir embora, pra pagar a passagem de volta”, afirma um deles. “Disseram que vão dar baixa na carteira e vamos esperar resolver tudo, quero meus direitos, porque estão falando que não querem pagar nada”, completa.

Sem condições de ir embora, já que os custos são altos, outro problema é a alimentação. De acordo com eles, o clube não queria que aqueles que foram desligados do elenco tivessem acesso a alimentação no alojamento. “Alimentação é questão do clube, ontem mesmo falaram que não ia ter janta, tivemos que comprar a briga para que todos jantassem, porque senão iam deixar sem comer”. Desde ontem, três dos jogadores que participaram da reportagem passaram a morar de favor em uma casa, aguardando que tudo se ajeite.

No clube

Em contato com a diretoria gremista, José Clóvis da Silva, Zé Clóvis, disse que o caso dos atletas está acontecendo por causa de um investidor que não teve o nome revelado, que pagaria o salário dos jogadores, mas teria sumido. “Por conta do Grêmio era alimentação, transporte e alojamento, fizemos esse acordo de boca, por isso está dando esse rolo todo”, afirma. Segundo ele, o acordo de pagamentos foi feito em contato direto dos jogadores com o investidor. “Ele (investidor) disse que pagaria no próximo dia 5 e eles aceitaram, mas ele sumiu, não atende mais ninguém”, relata.

A dispensa ocorreu por conta de que o custo seria alto para o clube bancar os jogadores. Segundo ele, o clube tentou pagar a passagem de volta de cada um, mas não aceitaram e queriam mais. Disse ainda que muitos dos que ficaram escolheram permanecer na cidade por conta própria.

Sobre a superlotação, o diretor afirmou que o estado atual é precário. “O lugar é para 18, ou 24 pessoas, não sei ao certo, mas tivemos que colocar jogadores a mais ali, já que os outros não aceitaram ir embora”, confirma. E para ele, o clube errou ao assinar o contrato e fechar conversa apenas por boca com o tal investidor, e diz que o Grêmio foi enganado, assim como os jogadores. “Fomos enganados, eles também foram, mas tem que ir embora, é um caso de rescisão como em qualquer outra empresa”, declara.

Ministério Público

A reportagem entrou em contato com o MPT (Ministério Público do Trabalho) para repercutir sobre a situação dos ex-jogadores gremistas. Conforme a procuradora do Trabalho, Renata Aparecida Crema Botasso, o órgão não havia recebido nenhuma denúncia sobre o caso até a tarde de ontem, porém ele afirma que irá “abrir uma investigação a partir das denúncias dos atletas feitas através da imprensa”.

Além disso, como na carteira de trabalho dos ex-jogadores há o registro do Grêmio Prudente, de acordo com a procuradora do Trabalho, a diretoria do clube teria o dever de contribuir com todos os direitos. “Em tese, é o Grêmio que tem a obrigação de pagar a rescisória, o deslocamento e tudo o que tiverem direito”, afirma.

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