Fornecedores: seus maiores concorrentes?

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 21/09/2025
Horário 04:30

A Rua 25 de Março, em São Paulo, sempre foi o coração do comércio popular brasileiro, abastecendo pequenos empreendedores de norte a sul do país. Mas esse coração pulsa cada vez mais fraco. Não é apenas a queda no consumo que ameaça as lojas tradicionais. O verdadeiro vilão está mais perto do que se imagina: os próprios fornecedores.
Durante décadas, a engrenagem funcionava bem. O atacadista vendia para o lojista, e este, com seu ponto de venda, sua vitrine e sua insistência diária em abrir cedo e negociar preços, fazia a roda girar. Hoje, o jogo virou. Importadores e distribuidores que antes limitavam-se ao atacado agora vendem diretamente ao consumidor, seja abrindo lojas próprias, seja explorando redes sociais e marketplaces. Resultado? O pequeno lojista é empurrado para a beira do abismo. 
É um contrassenso: quem deveria abastecer o comércio passou a disputar a mesma freguesia. E não apenas disputa, mas com armas desiguais. O preço que o lojista paga no atacado é praticamente o mesmo oferecido ao consumidor final. Como competir? Essa equação simplesmente não fecha. 
Algumas indústrias ainda preservam seus distribuidores, restringindo as vendas a CNPJs e impondo quantidades mínimas de compra, mantendo o consumidor final exclusivamente nas mãos desses intermediários. Mas essa lógica vem se desfazendo rapidamente, sobretudo com a ascensão dos gigantes do atacado — e aqui o exemplo mais gritante é a China.
O impacto é brutal. Margens evaporam, o giro de caixa aperta, o aluguel pesa, e a cada semana mais portas se fecham. O que está em curso é o desmonte silencioso de um modelo que movimentou bilhões de reais e que sustentou milhares de famílias ao longo de décadas. Quando o atacadista resolve virar varejista, elimina-se um elo da cadeia. O pequeno lojista, que antes era vital, passa a ser descartável.
É claro que muitos tentam resistir. Apostam em nichos, melhoram o atendimento, criam combos de produtos, abrem lojas on-line. Mas é como remar contra a corrente: a rua esvazia, o custo sobe e a concorrência vem justamente de quem deveria nutrir a cadeia.
Os desafios das lojas da 25 de março é um sinal de alerta para todo o varejo brasileiro. O pequeno comerciante está sendo confrontado pelos próprios fornecedores, numa disputa desigual. E sejamos francos: nada indica que esse cenário vá se reverter. Resta ao comércio se reinventar — e rápido — para não ser atropelado pela nova ordem do mercado.

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