Goulart briga pela criação de PP

"Muito esperto", Goulart negociou primeiro com Santo Anastácio, que também tinha pretensão de se tornar município, antes de Prudente

PRUDENTE - OSLAINE SILVA

Data 14/09/2017
Horário 13:36

Duas vilas pequenas, patrimônios, sem pretensão nenhuma, tinham vários problemas políticos e sociais, como, por exemplo, a falta de educação. E, coronel Francisco de Paula Goulart tinha uma preocupação grande com isso, pois seus estudos sempre foram “aos trancos e barrancos”. E como em 1920 já havia crianças em idade escolar, ele cria a primeira Escola Reunidas, para atender uma parcela da população em Presidente Prudente.

Outra preocupação do coronel era a segurança das pessoas, pois muitos bandidos estavam vindo para a região, por não ter policiamento naquela época. O primeiro passo, então, foi criar um distrito policial, com Ulisses Ramos de Castro como o primeiro inspetor de quarteirão que fazia toda a “ronda”. Mas, isso não era suficiente, pois ainda não existia pavimentação, era tudo terra e quem cuidava eram os próprios fundadores e moradores. Então, surge a ideia de se criar um município para se ter uma administração.

“Tínhamos duas sedes, Conceição de Monte Alegre e Campos Novos do Paranapanema, fundadas lá atrás, por José Teodoro, que disputavam o poder administrativo, logo eram: dupla taxação de imposto, duas sedes, duas Câmaras Municipais e o povo começou a reclamar, porque não tinha benfeitoria nenhuma”, conta o historiador Ronaldo Macedo. E, Goulart mais uma vez arregaça as mangas e vai atrás de acabar com isso. Coronel José Soares Marcondes, por sua vez, inicialmente, foi avesso à ideia de criação do município, porque ele estava mais ligado a Santo Anastácio, onde ele tinha negócios.

 

Em ação

“Muito esperto”, Goulart negociou primeiro com Santo Anastácio, que também tinha pretensão de se tornar município, antes de Prudente. “Ele vai até Arthur Ramos e Silva e faz a proposta de fazer concessões, se Arthur avançasse até Álvares Machado, com território de Santo Anastácio, mas sendo eles distritos e Prudente município”. Os dois foram para São Paulo, negociaram com a comissão geográfica, e desenharam o mapa do que seria o ideal. Voltaram a Prudente e a oposição toda se revoltou, Conceição o próprio Ataliba Leonel Pirajú. Havia essa pressão contrária, isso em 1921.

Mas, Goulart não desiste e pede apoio para a criação do município ao seu amigo influente, que também era de seu pai, Abelardo de Cerqueira César, que era senador estadual, para que se fizesse um projeto de lei, encaminhasse ao governo do Estado e que este batesse o martelo.

 

Festa para Washington Luiz

O governador percorreria a região nova, porque entendia que o que era novo era interessante. Mandaram-lhe um telegrama e, quando chegou a Epitácio, ponto final da Sorocabana, foi convidado a tomar um chá em Prudente. Ele veio, foi uma festa na cidade! Coronel Marcondes ofereceu um banquete ao governador no Cine Santa Emília, antecessor do Fênix, a população toda foi recepcioná-lo. Como decoração, em cima da mesa, foram colocados trigo e juta para mostrar que já se produzia no local, ou seja, que a cidade era viável. E Washington Luiz prometeu para quem estava lá que apoiaria sim a criação do município.

O chefe da comissão geográfica então verificou in loco essa pretensão. Ele ratificou o mapa e, no dia 28 de novembro, bateu-se o martelo criando o município de Presidente Prudente e o distrito de Santo Anastácio. O que acirra um pouco mais a rivalidade entre os dois coronéis, porque Goulart tinha todo um prestígio político, dominando o controle da cidade até 1925.

A comarca vem em 1922, já tem fórum e com o prestígio que o município adquire, de uma cidade minúscula, em quatro anos virar um município, um dos maiores do Estado de São Paulo, com 20 mil quilômetros quadrados, é o Pontal do Paranapanema inteiro, várias cidades, distritos, como Indiana, Regente Feijó, Martinópolis e com sua sede local. “Isso vai trazer ainda prestigio econômico, se tornando uma cidade centro de uma região inteira, como é até hoje. A duras penas, da forma bandeirante, muitas vezes de forma inadequada, mas que funcionou”, enfatiza Ronaldo Macedo.

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