Guizão compartilha situação delicada vivenciada na 2ª gravidez da esposa 

Segue a correção: Antes do bebê nascer e saber o que Ygor Guilherme tinha era esquizencefalia de lábio aberto, ele foi diagnosticado primeiro com hidrocefalia e, depois, holoprosencefalia alombar

Esportes - CAIO GERVAZONI

Data 10/12/2023
Horário 08:35
Foto: Arquivo Pessoal
Ygor Guilherme nasceu no dia 6 de março de 2023; tratamento é realizado em uma clínica particular de PP
Ygor Guilherme nasceu no dia 6 de março de 2023; tratamento é realizado em uma clínica particular de PP

Diz um ditado popular, postulado pelo treinador Dino Sani na década de 70, que “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Tal como as surpresas que ocorrem no jogo de 90 minutos disputado entre 22 atletas na busca de espaço para colocar a bola em uma das duas balizas, a vida por vezes também é pega pelo imponderável. Em um desses capítulos, o zagueiro Guizão, do Grêmio Prudente, ainda era atleta do Mirassol quando em meados de 2022 passava férias em Curitiba (PR) e descobriu que a esposa Kassyany Eduarda, 23 anos, estava grávida do segundo filho casal. 

“Descobrimos a gravidez com cinco meses, estávamos em Curitiba de férias A princípio estava tudo bem na primeira ecografia que fizemos. Era um menino e estava tudo bem. Foi um choque a gravidez em si porque já tínhamos o Yuri, meu filho mais velho, mas, enfim, estava tudo bem, foi uma benção que Deus nos enviou”, conta Guizão. 

A vida seguiu e o zagueiro acertou sua transferência para o Grêmio Prudente no final de 2022 para a disputa da Série A3 do Campeonato Paulista 2023. Guizão, Kassyany - com Ygor Guilherme em seu ventre - e o garoto Yuri Henrique deixaram Mirassol e pegaram a estrada rumo ao oeste paulista. 

O casal decidiu dar continuidade ao pré-natal em Presidente Prudente. Com sete meses de gravidez, durante um ultrassom de rotina, a médica se espantou ao passar o aparelho na barriga de Kassyany, pela região do cérebro do bebê.  “A gente sem entender nada perguntou o que era”, conta o zagueiro. A resposta da médica foi questionar se o casal tinha disponibilidade para fazer um exame mais profundo porque naquele estágio inicial o diagnóstico era de hidrocefalia. 

Guizão e Kassyany se dirigiram para uma outra clínica para realizar a ultrassonografia com um doppler. A partir daí a vida do casal tomou um rumo inesperado. “Conversamos com o médico, ele fez o exame e nos deu uma das piores notícias que a gente poderia receber. O meu filho foi diagnosticado inicialmente com holoprosencefalia alombar, que é quando cérebro do bebê não divide”, relata Guizão. “Então, a estimativa de vida dele no começo não passava de 20 horas após o nascimento. Se ele vive, ele não iria ter qualidade de vida, iria viver em estado vegetativo”, complementa o atleta. 

As noites mal dormidas e o sentimento de luto

Guizão conta que viveu um drama após receber a notícia do segundo diagnóstico, de holoprosencefalia alombar, tipo mais grave da doença, na qual o cérebro não consegue se separar e se associa geralmente a anomalias faciais severas. “Foi um drama pra gente, um dos dias mais difíceis que tive na minha vida. Você saber que vai ter um filho e ele não iria viver, então foi bem difícil”, compartilha o atleta. A tristeza profunda junto a Kassyany se assemelhava a de um luto. “Eu não conseguia dormir direito, às vezes acordava em pânico chorando, desesperado eu e minha esposa”, lembra o zagueiro. 

O cenário desolador vivenciado pelo casal não foi compartilhado inicialmente. Segundo Guizão, foram três meses de uma situação complexa, sendo que seu desempenho nos treinos de pré-temporada foi diretamente afetado pelas incertezas que rondava a gravidez de Kasyany. “Guardei pra mim, ficou entre eu e minha esposa e isso me prejudicou na pré-temporada da A3. Muitas vezes ia para o treino chorando, pensando na situação, mas chegava lá com o sorriso no rosto para ninguém notar e todo mundo ficar tranquilo. Mas, de certa forma, foi algo bem difícil, que mexeu diretamente com a gente. Isso atrapalhou no meu desempenho, foram três meses assim, que nada mudou”, relata Guizão. 

A dor compartilhada e o milagre do nascimento

O tempo continuou a passar e Guizão decidiu compartilhar sua dor com os companheiros de Grêmio. Ele foi acolhido pelo técnico Ademir Fesan, pelo psicólogo do time, Dimitri Cunha, e também por todos os funcionários do clube e, assim pôde, de certa forma, dissolver a aflição que vivenciava na espera da chegada, até então, desacreditada de Ygor Guilherme. 

Chega o dia 6 de março de 2023. Uma grande equipe médica estava reunida na maternidade onde Kassyane estava pronta para dar à luz ao segundo filho do casal. Ygor Guilherme vem ao mundo e o milagre da vida se faz presente. “Foi um milagre. Ele nasceu visivelmente bem, com saúde, chorou e tudo mais. Naquele momento em fiquei em dúvida, meu coração transbordou de felicidade. Imagina você ser um pai e ver um filho, que foi desenganado, nascer bem, com saúde? Foi esse meu sentimento no momento, meu coração aqueceu de uma forma inexplicável”, relembra Guizão. 

O bebê foi levado a uma sala para um novo diagnóstico. E novamente foi confirmada por meio de ecografia a holoprosencefalia alombar. “Estava eu, junto ao meu sogro Ronilton e o meu filho na sala e aí perguntei para o médico: ‘doutor, mas como ele está como holoprosencefalia se a face dele está perfeita?’. O médico disse que entendia minha dor como pai e me solicitou uma tomografia de crânio”, acrescenta o atleta.  

O diagnóstico final e a esperança da recuperação

De pronto, Guizão pediu auxílio aos diretores do Grêmio Prudente, João Paulo Tardim e Paulo Tomasete. No mesmo dia, a dupla conseguiu marcar o exame para um novo diagnóstico. “Esperamos minha mulher sair do hospital e fomos. Lá saiu o resultado e o diagnóstico dele mudou: ele foi diagnosticado com esquizencefalia de lábio aberto, que é uma condição menos grave, porém mais rara, que atinge uma em 100 mil crianças”, conta o zagueiro sobre o diagnóstico final. 

O tratamento da condição de esquizencefalia de lábio aberto portada por Ygor Guilherme teve início tempos após o nascimento do bebê. Inicialmente, estava sendo realizado por meio do SUS (Sistema Único de Saúde), porém a família não viu evolução na condição da criança e optou por uma clínica particular. Desde então, houve evolução. Guizão e Kassyane tem contado com a ajuda de familiares, amigos e da comunidade de Prudente para custear o tratamento do segundo filho do casal.

“Creio que será uma história vitoriosa ao longo do tempo. Sei que sempre Deus cuidou de tudo. Com muita fé, podemos estar vencendo estas batalhas do dia a dia”, finaliza o zagueiro.  

Arquivo Pessoal

Guizão (centro), a esposa Kassyany (dir.) e os filhos do casal, Yuri (esq.) e Ygor Guilherme (centro) 

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