Identidade, memória e justiça

EDITORIAL -

Data 15/08/2025
Horário 04:15

A campanha de coleta de DNA realizada pelo IML (Instituto Médico Legal) de Presidente Prudente até esta sexta-feira é um ato de compromisso com a dignidade humana. Ao reunir material genético de familiares de pessoas desaparecidas e integrá-lo a bancos estaduais, distrital e nacional, a iniciativa abre uma porta concreta para respostas que, muitas vezes, parecem inalcançáveis. Para quem vive a ausência de um ente querido sem qualquer explicação, cada nova tecnologia, cada novo procedimento, cada nova oportunidade de identificação é um fio de esperança a ser agarrado com todas as forças. 
O desaparecimento é uma ferida social profunda que atravessa a intimidade das famílias e se perpetua no tempo, corroendo a saúde emocional, a estrutura familiar e, em muitos casos, a própria capacidade de seguir em frente. A ausência de respostas mantém viva uma dor silenciosa que só encontra alívio quando a verdade, por mais dura que seja, finalmente vem à tona. Nesse contexto, a coleta de DNA não é apenas um recurso científico; é um instrumento de justiça e de respeito à vida. 
O procedimento, simples e indolor, realizado com um cotonete, é acessível e prioriza familiares de primeiro grau, como pais, filhos e irmãos. Para quem não pode se deslocar, existe a possibilidade de coleta domiciliar, e até mesmo objetos pessoais, como escovas de dente, lâminas de barbear ou dentes de leite, podem ser utilizados como material genético. A tecnologia está posta, a estrutura está disponível e a oportunidade é única. Falta, muitas vezes, vencer o peso emocional que impede a busca ou superar a falsa sensação de que nada mais pode ser feito. 
É preciso lembrar: a participação da população é determinante para o sucesso dessa ação. Cada família que comparece e doa seu material genético ajuda não apenas a si mesma, mas também a outras famílias que vivem o mesmo drama, pois o cruzamento de informações pode resolver mais de um caso. Em tempos de tantas urgências, em que a segurança pública convive com múltiplos desafios, iniciativas como esta mostram que a ciência pode, sim, ser um instrumento de amparo e humanidade, desde que haja engajamento e cooperação. 
O desaparecimento de uma pessoa não pode ser reduzido a um número em planilhas; trata-se de histórias, afetos e vidas que precisam ser resgatadas, nem que seja apenas pela certeza de onde e como tudo terminou. Que essa campanha sirva como um chamado à ação e como prova de que, diante da dor, a omissão jamais pode ser uma escolha. A resposta pode estar a um simples exame de distância.
 

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