Idosos demenciais com transtornos  mentais, uma difícil tarefa

OPINIÃO - Sergio Munhoz Pereira

Data 30/08/2023
Horário 04:30

Como médico, acompanho a terceira idade há mais de 35 anos, na orientação de familiares e cuidadores, e no meu dia a dia, como médico anestesista, tenho realizado há muitas décadas inúmeras anestesias para os mais variados procedimentos cirúrgicos, nesta faixa etária, especialmente, aqueles pacientes com doenças degenerativas, como doença de Alzheimer e doença de Parkinson. As cirurgias vão desde correções de fraturas, quase sempre após quedas, dos braços, fêmur, para colocação de prótese de quadril e até no hematoma cerebral, o que tem sido um desafio para a nossa equipe médica.
O que mais me assusta são as idades cada vez mais precoces dos pacientes com estas doenças degenerativas, já comprometidos com a parte estrutural e cognitiva, alguns com 55 anos ou início dos 60 anos, com prevalência de mulheres. 
Na avaliação pré-anestésica, faço uma história do estado geral, se tem outras comorbidades, se usa medicamentos, e quais fatores que familiares e cuidadores terceirizados enfrentam no dia a dia com estes pacientes. 
Na grande maioria destes idosos, que chegam ao centro cirúrgico com alterações demenciais para cirurgia, também são depressivos e possuem várias doenças, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, artrite reumatoide, hérnia de disco, diminuindo a qualidade de vida. Quase com frequência estes idosos têm associação psicoses secundárias, o que torna o cuidado do doente ainda muito mais difícil, desafiador.
É muito importante que familiares e cuidadores saibam que estes pacientes podem apresentar, infelizmente, em algum momento nesta fase da vida, quadro graves de transtornos mentais, mesmo na ausência de história familiar de transtornos mentais ou mesmo na ausência de antecedente pessoal de transtornos mentais.
Estes idosos demenciais apresentam delírios persecutórios em 30% dos casos e alucinações visuais, táteis e olfativas em 16%. Estes delírios costumam ser concretos e simples e mais: podem estar associados com a gravidade do comprometimento cognitivo.
Também é importante que familiares e cuidadores tenham consciência que tanto a evolução da doença degenerativa, seja doença Alzheimer ou Parkinson, quanto o tratamento ao transtorno mental poderá ter uma resposta limitada ao tratamento e com sintomas mais graves que o esperado com alterações subsequentes à mudança de personalidade e flutuação do nível de consciência.
As qualidades emocionais devem ter um cuidador de idoso: o cuidador deve manter o otimismo, não levar frustrações e angústias para o lar do idoso; proporcionar um ambiente agradável e saudável; separar problemas pessoais dos profissionais; saber acalmar o idoso e outras pessoas presentes; ter bom humor.
Difícil, muitas vezes, mas com orientação, carinho, dedicação e amor, é possível passar esta fase com bom resultado.

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