Individualidade de cada um

Já observaram como todos nós somos diferentes? Cada pessoa tem um jeito e cada qual com a sua peculiaridade, característica e especificidade. Muitas vezes, não aceitamos determinadas pessoas e queremos determinar comportamentos ou que o outro seja uma extensão de nós mesmos. Há pais que olham para seus filhos e muitas vezes, até sem perceber, sonham seus próprios desejos mais primitivos e infantis, neles. Aspiram, de forma inconsciente e implícita, realização através do filho. Desprezam os próprios sonhos dos mesmos. 
Há casos também, que passam a idealizar os filhos dos outros. Os filhos de seus amigos, sócios, colegas, irmãos, enfim, parentes, passam a ser a referência do que é o ideal. “Se o filho do outro é isto ou aquilo, por que o meu também não o pode ser?”, pensam. Daí então segue exigências, até sem limites e sem percepção, do limite do filho, tampouco, a individualidade e as suas características mais intrínsecas.
Em decorrência deste fato, observamos crianças que fazem muitas atividades extraescolares perfazendo de forma exacerbada muitos cursos e algo mais. Resultando num estresse, levando à busca por mecanismos de defesa, como sono, por exemplo. Esta atitude dos pais poderá levar os filhos, à sensação de impotência grande, com relação à vida, perdendo a criatividade, motivação e crença em sua própria capacidade, que julgava ter. 
E quando o filho apresenta déficit de aprendizagem? Os pais da contemporaneidade são intolerantes à oscilação no desempenho escolar. Tem de ser o melhor! Se o filho do outro tira só dez, por que o meu não tira? A primeira atitude é levar a um especialista para fazer “diagnóstico”. O importante é encontrar uma causa rápida e objetiva, isto é, alguma explicação mágica que tenha rapidez em sua resolutibilidade. Muitas vezes a Ritalina (metilfenidato) é a fórmula mágica, e não se questiona. 
Só não há perguntas do tipo: Como está a dinâmica do lar? Estamos respeitando nossos filhos? Estamos, enquanto casal, nos respeitando? Estamos brigando, gritando ou nos agredindo de forma verbal ou fisicamente na frente dos filhos? Houve a necessidade de se realizar um procedimento cirúrgico muito complexo em seu nascimento ou durante a fase infantil, que demandou cuidados excessivos e separação com relação à mãe, devido ao ambiente hospitalar? A gestação foi muito complicada ou conturbada? Dialogamos com eles? Estamos os idealizando demais, amputando da vida deles o brincar, que é uma condição sine qua non para um bom desenvolvimento biopsicossocial? 
Muito déficit ou distúrbio de aprendizagem tem como causa desajuste familiar e não é necessária a medicação. Tem mães que trabalham demais, pais ausentes e filhos carentes. A carência, o desamparo, a exclusão desencadeiam baixa autoestima, resultando, consequentemente, na queda do desempenho escolar. É claro que há casos, que são de fato, bem diagnosticados, sendo necessária a prescrição de medicação, não há dúvidas. Mas, é necessário refletir sobre a história de vida de cada criança. 
Muitas vezes a hiperatividade e a impulsividade da criança nada mais são do que uma expressão de alerta aos pais de que algo não está bem, só que muitas vezes, não sabem, não têm oportunidade nem direito à verbalização, e acabam expressando numa diversidade de comportamentos. Muitos pais são incapazes de assimilar e perceber a forma de expressão dos filhos. Acredito que toda essa confusão, incertezas, atitudes tomadas pelos pais só vêm dificultar, impossibilitando, retardando ou impedindo, a capacidade primordial do desenvolvimento da criança que é a aquisição da identidade. Cada indivíduo tem um jeito especial de ser, expressar, conquistar, aprender e de se fazer existir. É preciso respeitar o limite e o tempo de cada pessoa.
 

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