Na última semana, a personagem Maria de Fátima, interpretada pela atriz Bella Campos, na novela “Vale Tudo”, na Rede Globo, disse em uma cena que “faculdade é um conceito ultrapassado”. Ela mandou essa pérola ao ser questionada se possuía formação universitária para se candidatar a uma vaga de emprego como diretora de criação em uma agência de publicidade. Afirmou ainda que já possuía cursos on-line e isso era suficiente.
Não vou discutir aqui a importância do ensino superior para a vida de alguém e nem a correlação direta que há entre este tipo de conhecimento e uma vida profissional promissora. Não garantida porque isso depende de cada um, mas sempre promissora.
O que quero chamar atenção aqui é que a fala da personagem Fátima reflete demais o que milhões de pessoas pensam ao se iludirem com um mundo digital cheio de promessas.
A internet é isso: um meio de promessas. Rapidamente você pode se convencer de que pode ser rico e até milionário; pode ser um pregador, um especialista ou um sabe-tudo de quase tudo neste mundo. Mas o problema está no “pode”, que ilude a cabeça de pessoas mais fracas e faz com que pensem exatamente como Maria de Fátima.
O escritor Yuval Harari, em seu mais novo livro chamado “Nexus”, que aliás, recomendo fortemente, traz uma discussão fundamental para quem ainda pensa que a internet é esse mar de poder. Diz ele que durante anos, a humanidade teve a ilusão de que ao ter mais informação estaria automaticamente mais perto da verdade, do conhecimento infalível, mas então veio a internet e jogou água nesta fogueira.
E antes que você grite que a internet tem sim essa capacidade, eu já me adianto e reforço o pensamento de Harari de que saber tudo não faz de ninguém uma pessoa mais inteligente ou a única detentora de todas as verdades. Aliás, caso não haja uma curadoria decente, faz mesmo é que ela seja cada vez mais ignorante.
Quer uma prova apenas disso? Vamos lá: hoje em dia, não parece que as pessoas perderam a vergonha em dizer bobagens? Do nada, às vezes no almoço em família, no grupo de conversa, alguém solta uma idiotice sem tamanho e, pior, ainda defende a ignorância. O que é isso? Muita informação disponível, mas nem sempre de qualidade e verídica. A pessoa fica meio que empoderada com tantos dados e acaba “se achando”.
Daí que é fácil a gente ver por aí um monte de “Fátimas” vomitando ignorância e arrogância dizendo que sabe tudo porque já “vivenciou tudo”. Se ainda ficassem quietos em seus buracos, até que vai, mas decidem ainda passar muita vergonha.
Se queremos agir sabiamente no mundo digital, a primeira lição é não se deixar levar pela noção ingênua de que ao termos muita informação disponível, teremos a verdade e muito mais sabedoria. E ainda mais como se fosse em um passe de mágica, assistindo a um documentário sobre a mente humana, e saindo por aí vendendo cursos de “Como ser mais inteligente”.
Fica a dica da Fatinha para os Fatmores!