Isolamento social: convivência entre casais

Psicólogas expõem que período pode levar a um maior conhecimento dos sentimentos que sustentam a relação, e que um laço saudável pode ser obtido através do diálogo, silêncio e do respeito do espaço

VARIEDADES - WEVERSON NASCIMENTO

Data 30/06/2020
Horário 05:00
Cedidas: Francinara Nepomuceno - Rosangela e Cristiane abordam a convivência para casais durante o isolamento

Aplicada no Estado de São Paulo desde o dia 24 de março deste ano, a quarentena mudou a rotina das pessoas, principalmente, das famílias. Com isso, durante o período de isolamento social, é natural que os casais se desentendam mais, uma vez que, passam mais tempo um ao lado do outro. Conforme profissionais da Psicologia, este período pode levar a um maior conhecimento de quais afetos sustentam a relação, bem como àqueles que causam a intolerância de um para com o outro. Para tanto, só será possível passar pela ocasião quando a relação estiver fundamentada em um laço saudável, seja através do diálogo, do silêncio e do respeito do espaço.  

 

De acordo com a psicóloga clínica e especialista em gestão de pessoas, Rosangela Zamineli, antes da pandemia os parceiros tinham possibilidades de distribuir a energia pulsional (de vida) em atividades diversas, como trabalho, academia, encontro com amigos, etc. No entanto, descreve que neste momento as possibilidades de deslocamento de energia, tanto corporal, quanto psíquica, ficam restritas apenas em uma só atividade, por exemplo, os afazeres domésticos. “Desse modo, há um acúmulo de afetos represados que vêm à tona de diversos modos, com agressividade. Neste sentido, há um estranhamento do casal por receber com certa surpresa a reação do outro”, explica.

A convivência intensa, segundo ela, pode deflagrar não só sentimentos pontuais de cada parceiro, mas como potencializar afetos reprimidos pela própria relação do casal. Assim, os ressentimentos podem vir à tona com carga afetiva bem mais densa do que antes, pois é importante que cada um suporte saber de si. “Tem uma passagem muito oportuna do psicanalista Jacques Lacan, onde ele adverte ‘ouse saber de si’. Neste momento, é importante que cada um reconheça seu movimento frente às mudanças provocadas pela pandemia e se responsabilize por suas atitudes boas e ruins, sem culpabilizar o parceiro”, pontua Rosangela.

 

BASE DA

RELAÇÃO

Outro fenômeno importante e bastante existente com mais força nesses tempos, é a projeção entre os casais, onde um não reconhece suas vulnerabilidades e projeta no outro a culpa pelo sentimento que o faz sofrer. “Como é bastante difícil em um casal a linearidade, pois um pode ser mais controlador e o outro, vulnerável, esta diferença se potencializa e pode fomentar situações de violência tanto psíquica, quanto física entre os pares”, expõe Rosangela.

A boa notícia, segundo ela, é que as restrições encorajam a criatividade – neste sentido, o confinamento pode ser um excelente momento para ressignificar as diferenças entre o casal e, assim, reinventar possibilidades de novos horizontes para a relação.

 

“NESTE MOMENTO, É IMPORTANTE QUE CADA UM RECONHEÇA SEU MOVIMENTO FRENTE ÀS MUDANÇAS PROVOCADAS PELA PANDEMIA E SE RESPONSABILIZE POR SUAS ATITUDES BOAS E RUINS, SEM CULPABILIZAR O PARCEIRO”

Rosangela Zamineli

 

RESOLUÇÃO

DE CONFLITOS

Para psicóloga e coordenadora do Centro de Estudos Psicanalíticos/Motiva, Cristiane Mezas Madeira, o diálogo é sempre fundamental nas relações. Mas, também é imprescindível o silêncio ao respeitar o tempo de cada um, para que essa relação possa subverter esse momento de desdobramentos que o isolamento vem proporcionando.

Segundo ela, muitas vezes, em um conflito, uma das partes quer resolver e falar o que sente, mas, nesse momento, nem sempre as questões são resolvidas no tempo em que se deseja. “Dar um tempo é também dar espaço ao outro diante daquilo que não dá para resolver agora. É importante dar espaço para pensar, para chorar as angústias, seja para fortalecer ou o término de uma relação”, coloca Cristiane.

Ela explica que o isolamento e seus desdobramentos potencializam “um laço que virou um nó”, como por exemplo, a violência doméstica. “Pensando nos casais que a relação virou um nó, é importante a intervenção profissional para ajudar a identificação da dinâmica familiar e a aliança inconsciente estabelecida possibilitando a escolha de outras formas de laços”, acentua Cristiane.

 

“DAR UM TEMPO É TAMBÉM DAR ESPAÇO AO OUTRO DIANTE DAQUILO QUE NÃO DÁ PARA RESOLVER AGORA. É IMPORTANTE DAR ESPAÇO PARA PENSAR, CHORAR AS ANGÚSTIAS, SEJA PARA FORTALECER OU O TÉRMINO DE UMA RELAÇÃO”

Cristiane Mezas Madeira

 

 

 

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