No fim dos nos 60, quando a ditadura lançou o seu partido político, a Arena, o cartunista Jaguar não perdoou: "Um governo que começa construindo uma arena acaba perseguindo os cristãos". Como todo grande humorista, Jaguar acertou na mosca e em outros insetos. Ele foi embora deste insensato mundo domingo passado. Tinha 93 anos.
Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe era o típico carioca da gema e talvez da clara. Boêmio nato. E biriteiro, claro. Quem lhe deu o apelido de Jaguar foi o Borjalo, também desenhista de humor e que trabalhou na Globo, onde Jaguar desenhou vinhetas engraçadíssimas.
Jaguar ilustrou todos os livros do Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto, publicados pela Editora Sabiá. Foi funcionário do Banco do Brasil e trabalhou em jornais e revistas, como a revista Senhor e o jornal Tribuna da Imprensa. Escreveu vários livros, entre os quais "Átila, você é bárbaro" e "Confesso que bebi".
Humor de altíssimo nível. Jaguar se inspirou no livro "Confesso que vivi", do poeta chileno Pablo Neruda, e fez a "brincadeira" "confessando" que bebeu muito.
Aliás, o fígado dele acabou "chiando", mas isso aconteceu aos 93 anos. O fígado aguentou, mas o pulmão não. Jaguar morreu de pneumonia, além dos problemas "figadais", como é óbvio.
Jaguar foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, junto com Tarso de Castro e Sérgio Cabral. O cartunista criou o ratinho Sig, mascote do jornal. Sig é uma alusão a Sigmund Freud. A ditadura perseguiu o jornal e prendeu a maioria de seus jornalistas.
Jaguar testemunhou a briga entre Millôr Fernandes e Chico Buarque de Hollanda em um bar no Rio de Janeiro. O cartunista contou que Millôr pegou tudo que estava na mesa e lançou na direção do compositor. Errou o alvo: acertou o garçom. Se não me engano, a encrenca começou depois que o Chico deu uma cusparada no rosto do Millôr. Coisa de intelectual.
Jaguar deixou sua marca no mundo. Melhor: deixou seu traço no mundo, um traço que Chico Caruso considera um dos melhores de todos os tempos. Jaguar pediu para ser cremado e que suas cinzas fossem esparramadas nos bares que frequentava. E salve a boemia!
DROPS
Só o tempo dirá. O problema é que o tempo é mudo.
De grão em grão a galinha enche o papo e o dono da granja enche o bolso.
A Terra é redonda, mas está lotada de gente quadrada.
Coisa perigosa: festa em submarino nuclear.
Quer comer bem? Restaurante, churrascaria, petiscaria e casa de carnes Mithan Sato, do André Sato. Dois endereços: Rua Eugênio Corazza, 487, J. São Geraldo, e Av. Ana Jacinta, 1.743. Fones: 3217-3287 e 3906-3055.