Jardins encantados

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 02/04/2023
Horário 04:30

Tenho percorrido diferentes unidades universitárias e me encanta quem incorpora no paisagismo uma espécie de jardim sensorial, com seu exuberante universo de texturas, sons, cores e aromas. Exemplo como esses podem ser vivenciados em muitos lugares, como na Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura da Paz da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, localizada no Parque do Ibirapuera. 
Eu nem preciso viajar para tão longe. A Evelane organiza e cuida do nosso próprio jardim sensorial, espalhando diversas flores perfumadas, folhagens exuberantes, espelhos e fontes de água lá no fundo do quintal. Gosto de fechar os olhos e me deliciar com os aromas das ervas sobrepostos uns aos outros. Está ali o cheiro do alecrim, capaz de aguçar a minha memória e raciocínio. Tem também a ação profunda das folhas da guiné, mas também percebo a presença da sálvia e da lavanda. E o que dizer da arruda, planta conhecida no Brasil pelos seus poderes energéticos que afastam as energias negativas? É a hora de reverenciar as benzedeiras....
Frequentemente, quando a minha filha mais nova estava com quebranto, eu a levava numa benzedeira que morava perto de casa. Sim, o tal do quebranto provocado pelo mau-olhado, fenômeno conhecido no mundo inteiro: “Mal de ojo”, na Espanha; “Mal-occhio”, na Itália; “Evil eye”, na Inglaterra; e “Mati”, na Grécia. A benzedeira rezava três vezes, movimentando um arranjo de múltiplas ervas em sinal da cruz: “Com dois puseram, com três eu tiro. Com o nome do Pai, do filho e do Espírito Santo, sai quebranto!” E pronto, a minha pequena dormia tranquila a noite inteira. 
Mas aquela benzedeira não cuidava apenas do quebranto da minha filha. Diziam que ela cuidava de tudo: espinhela caída, erisipela, vento virado, peito arrotado. Dá-lhe o mundo povoado de rezas, de crenças, de simpatias e de benzeções. Saberes e práticas tradicionais reconhecidas pelo importante papel que exercem na saúde pública, como parte do Programa de Práticas Integrativas e Complementares do SUS (Sistema Único de Saúde). 
Salve as benzedeiras... mas também as parteiras (carinhosamente chamadas de “mães de umbigo”), assim como as mulheres quebradeiras de coco-babaçu e as raizeiras do nosso Cerrado – que representam forte protagonismo das mulheres que coletam e manejam paisagens repletas de plantas medicinais! “Passo pelos três cantos da casa, saúdo Seu Zé e ajoelho no congá. Peço benção à minha Mãe, pois proteção nunca há de me faltar. Despeço dos irmãos e irmãs e saindo sorrindo... nunca de costa para o altar.”
 

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