Sandro Villar

O Espadachim, um cronista que gostaria de ter paciência de Jó e sabedoria de Jô

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 09/08/2022
Horário 05:30

Jô Soares dizia que era inútil temer a morte até porque todo mundo parte desta para a melhor. Ou bate as botas e outros calçados. Ninguém fica para semente. Uma hora a Velha da Foice faz o serviço dela, como diz o Xico Sá. Todos sabem de cor e salteado que o Jô teve uma carreira brilhante na televisão, teatro, literatura e por aí vai.
Mas, penso eu, esqueceram de dizer (no caso, a mídia), que o Jô também atuou no rádio. Sim, foi apresentador de um programa de jazz na Rádio Eldorado (SP) que pertencia ao Grupo Estado (Estadão). Jô tinha um jeito especial de apresentar as atrações. No momento de tocar o disco, ele dizia pro operador de som: "Taca agulha nele!".
No caso, a agulha era a do equipamento - ou vitrola, não me lembro mais - que fazia o disco girar em 78 rotações por minuto, 45 ou 33 rotações, se não me falha a cachola (sou antigão, hein?). Jô Soares era um expert em jazz, entendia do riscado e até tocava trompete e outros instrumentos.
Foi muito doído para o Jô o cancelamento do seu programa na Globo. Isso o abalou profundamente e não é preciso ser psicólogo para perceber que ele ficou muito triste. Jô queria continuar e seu público também exigia a sua permanência.
Há um consenso entre os barões da mídia, principalmente da tevê, de que a programação deve ser nivelada por baixo. Nada de humoristas e jornalistas inteligentes. Quanto mais cafona e brega a programação, melhor. É a visão dos donos da televisão, uma visão equivocada. A Globo defenestrou Jô Soares porque ele não aceitou intromissões em seu programa.
Cadê a liberdade total? Aliás, sobre isso o saxofonista Derico foi claro: "No começo, disseram (a direção) que a liberdade seria total. Com o passar do tempo, já não era tão total". Precisa desenhar? O "Programa do Jô" era um dos poucos que prestavam na tevê como um todo. Hoje em dia a programação, na área do entretenimento, está uma esculhambação total nos canais abertos. Besteiras em excesso e tome de pipoca oferecida por mãinha Ivete Sangalo, que mais rebola do que canta.
Jô era um humanista. "Eu vivo e deixo viver", dizia. Por falar nisso, lembro como ocorreu a morte de sua mãe Mercedes Leal, atropelada por um taxista no Rio de Janeiro. À época, ela tinha 70 anos e Jô, 30. Chovia no momento do acidente, conforme disse o Jô em comovente depoimento ao jornalista Marcelo Bonfá, em 2015.  
O taxista socorreu a mãe do humorista e a levou para um hospital. Ficou ao lado dela junto com o marido de dona Mercedes. Dez anos depois do acidente, o Jô foi de São Paulo para o Rio e, depois de desembarcar no aeroporto, tomou um táxi. Adivinha quem era o taxista?
Ele mesmo, o homem que havia atropelado a mãe do Jô. O taxista confessou tudo e pediu perdão. Ele disse que desde o acidente não conseguia dormir. "Você não teve culpa. Socorreu minha mãe e ficou ao lado do meu pai até minha mãe morrer. Você está mais do que perdoado", disse Jô ao taxista.
Sobre o perdão, coisa rara no mundo atual, o Jô Soares foi taxativo: "O perdão para mim é a coisa mais importante no Cristianismo". Somente uma grande alma se expressa assim. Grande Jô Soares, no talento e no tamanho. 

DROPS DO JÔ SOARES

A comissão faz o ladrão.

É bem melhor pensar sem falar do que falar sem pensar.

Era um menino tão mau que só se tornou radiologista para ver a caveira dos outros.
 
No Brasil, quando o feriado é religioso, até ateu comemora.

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